domingo, 18 de setembro de 2016

A crise da arbitragem


A crise da Arbitragem é um tema que se faz presente, a cada dia com mais intensidade, nos últimos anos. Mas, a que isso se deve? De onde (além do próprio campo de jogo) vêm as impressões de que os árbitros têm errado cada vez mais?
Pois bem. A resposta não se limita aos gramados nem ao talento (ou falta dele) para a mediação do jogo. E é ai que a merda acontece.
Se consultarmos a regra 5 do futebol veremos que seu primeiro item diz sobre o árbitro que sua função é "de fazer cumprir as regras do jogo". Sendo assim os juízes, como são popularmente chamados, têm a função de mediar conflitos, observar infrações e zelar pela fluência das partidas - preceitos estes nos quais as equipes de arbitragem têm falhado ridiculamente.
Num tempo distante, em que o futebol tinha outro ritmo e a tática, e mesmo algumas das atuais regras não existiam, as infrações eram estabelecidas por "acordos de cavalheiros" entre as duas partes. Até que em 1868 surge a figura do árbitro, esta que só ganha plenos poderes no campo de jogo quase três décadas depois.
No entanto, durante a maior parte do tempo em que se praticou o futebol, tanto o ritmo; velocidade; tática e regras mudaram, dificultando o papel da equipe de arbitragem.
A velocidade (que ano a ano substitui a técnica) tem aumentado vertiginosamente nas últimas décadas, assim como o dinamismo tático. Tudo isso agregado ao fato de que a quantidade e qualidade das câmeras, e por consequência da captação de imagens, deu um salto nas últimas décadas. Lances que no passado eram imperceptíveis a olho nu agora são minuciosamente destrinchados por dezenas de softwares e analistas que não sofrem com a pressão das arquibancadas e têm todo o tempo para analisar as repetições do lance, em câmera lenta, por diversos ângulos... Serviço que qualquer um, mesmo sem um pingo de capacitação, poderia fazer tranquilamente.
Por outro lado há, evidentemente, a incompetência técnica ou mesmo física, ambas que levam ao erro humano. Incompetência essa que também tem aido crescente nos últimos anos. (Que se deve a muitos fatores - desde a preparação até a questão da profissionalização da classe) Ou seja, tudo isso se soma às transformações, já citadas, na prática do jogo colaborando para a queda de qualidade. Além disso há outra questão: A má intenção ou, como popularmente é chamada, "operação".
Este assunto é tratado de forma hipócrita e até mesmo burra, por parte da grande maioria de comentaristas acéfalos que povoam a crônica esportiva Brasileia. Mas é evidente que além de todos os fatores elencados aqui há que se colocar nesse balaio os casos absurdos de manipulação, como o que o ocorreu no Campeonato Brasileiro de 2005 (que manchou a competição naquele ano), ou mesmo o grandioso esquema desmantelado no campeonato italiano em 2006 que culminou com o rebaixamento e a cassação dos dois últimos títulos da Juventus anteriores àquele ano.
Também há que se ressaltar a pornográfica atuação do árbitro Carlos Amarilla prejudicando o Corinthians em partida contra o Boca Juniors válida pela Copa Libertadores da América de 2013.
Casos como esse colocam em cheque muitas arbitragens falhas (ou teoricamente falhas) e o que as teria levado a resultados tão catastróficos no que se trata de performance. É muito difícil que se compreenda a qual dos fatores acima se devem muitas das vergonhosas atuações. Além do efeito Davi e Golias nas arbitragens que leva o árbitro, muitas vezes, a decidir pelas equipes grandes nos momentos de lances duvidosos. Alguns times, inclusive, sendo muito mais frequentemente ajudados (não há citações a nomes porque não tenho dinheiro para pagar processos)
O interesse financeiro que permeia o certame; a pressão da mídia e das torcidas; o interesse dos detentores dos direitos de transmissão; empresários e muitas outras questões talvez pudessem ser menos influentes no processo decisivo dos árbitros através do emprego da tecnologia no futebol, assim como acontece em diversos outros esportes, de forma dosada e coerente. Talvez essa seja a única forma de preservar ou reaver qualquer lisura que possa haver no futebol. Porque muito ao contrário do que diz a regra 5 os juízes há muito tempo não têm feito mais cumprir as regras do jogo, não em sua plenitude.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

O Quinto Grande



"Vamos à luta, ó campeões,
hão de vibrar os nossos corações
Na tua glória, toda certeza,
que tu és grande, ó Portuguesa!
Vamos à luta, ó Campeões,
há de brilhar a cruz dos teus brasões
E tua bandeira verde-encarnada,
que é a luz da tua jornada!
Vitória é a certeza
da tua força e tradição
Em campo, a Portuguesa,
pra nós, és sempre um time campeão"





Às vezes eu me pergunto para que serve a memória. Sim, a memória. O emprego da memória no mundo esportivo, que devia ser enraizada, não existe nos dias de hoje.
O objetivo das disputas futebolísticas é, além da vitória por si só e além dos títulos, encantar. E esse encantamento, de um drible, um lance, uma jogada que contraria a lógica - é disso que se faz o futebol - e mesmo quando se fala de "título" a própria palavra já nos remete à memória... Algo que veio e se foi, embora o momento e a forma como aconteceu fiquem gravados nas mentes de quem presenciou ou nos títulos, nos gols, nas vitórias, nas páginas amareladas de jornais, nas vozes dos cronistas.
Vamos falar aqui daquele que é sim (embora degradado e maltratado por sucessivas más administrações e mesmo pela arbitrariedade dos tribunais) O quinto grande do futebol de São Paulo: A Associação Portuguesa de Desportos.
Em 14 de Agosto de 1920 foi fundado o clube, que surgiu da união de outras sociedades lusitanas e apenas quinze anos depois de sua fundação conquista por duas vezes seguidas o já tradicional Campeonato Paulista. Isso após sua união com o Mackenzie para a disputa dos campeonatos na década de 20.
Neste período a Lusa ainda mandava seus jogos no antigo estádio da Rua Cesário Ramalho no Cambuci. Tendo à época algo que poucos clubes no Brasil possuíam: Um jogador campeão do, Filó (campeão do mundo de 1934 pela seleção italiana), que ingressou na equipe rubro-verde na década de 30.
Desde os anos 40, já uma grande reveladora de jogadores, a Portuguesa montou uma fantástica equipe que daria frutos nos anos 50 e que, antes do grande Santos de Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe e do Botafogo de Garrincha, Zagallo, Didi e Nilton Santos, foi o grande time do futebol brasileiro.
Campeã do torneio Rio-São Paulo nas edições de 1952 e 1955 (quando este era o mais importante torneio do país) a Lusa foi uma das mais poderosas equipes do país na década.
Outro grande momento da Portuguesa foi na década de 70 quando foi novamente campeã paulista, além de inaugurar sua casa definitiva: o estádio Oswaldo Teixeira Duarte ou popularmente, Canindé.
Mas o que teria levado um clube que, em vários períodos da história do futebol nacional, foi protagonista no cenário dos grandes clubes, a uma derrocada tão vertiginosa?
Até meados dos anos 90 a Portuguesa chegava a fases agudas de campeonatos que disputava, sendo finalista do campeonato brasileiro de 1996 além de frequentemente vencer São Paulo, Corinthians, Palmeiras e Santos, além de outras potências do futebol nacional.
Talvez um dos motivos da queda de produtividade e do esquecimento da grande Portuguesa, que já teve em seus plantéis jogadores como Julinho Botelho, Enéas, Roberto Dinamite, Basílio, Zé Roberto, Dida, Dener entre dezenas de outros, seja além das pavorosas administrações do final dos anos 90 e ao longo dos anos 2000, seja o nome.
Muitos crêem que o nome, ligado intimamente à colônia lusitana, tenha sido um dos freios da manutenção da Portuguesa na elite do futebol brasileiro. Ao que se imagina a fortíssima conexão com as origens portuguesas teria limitado o crescimento da torcida, por exemplo, a descendentes de portugueses.
Ao contrário do que houve com Cruzeiro e Palmeiras, ambos chamados de Palestra Itália antes da Segunda Grande Guerra (período em que se iniciou perseguição às colônias alemã e italiana), mas que após a mudança de nome angariaram muitos outros torcedores além das colônias italianas.
Além do fatídico episódio do BIZARRO resgate do FLUMINENSE da queda à série B, que acabou por prejudicar a Lusa - este que foi um dos mais pesados golpes da história do clube - há também a questão da péssima administração do clube, financeira e juridicamente falando e sobretudo do sucateamento das categorias de base, estas que podiam ser o respiro e luz no fim do túnel para a Associação Portuguesa de, que há quase duas décadas não é mais nem sombra do que foi em seu passado glorioso (que entre outras coisas coleciona avassaladoras excursões internacionais).
Os amantes do futebol aguardam pelo retorno da Portuguesa ao seu lugar entre os grandes do Brasil.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Ah, o Zagueiro...

Caros ébrios,

Existe uma posição no campo de futebol que é extremamente vibrada. Talvez, pela empatia dos aficionados de futebol, por achar que esta posição, teoricamente, não precisa de técnica, mas força, vontade, raça, garra, e amor à camisa. Essa posição é o zagueiro.

Nós, torcedores fanáticos, temos um verdadeiro carinho em relação aos nossos bons beques. Vou relatar apenas dois casos.

Tenho um grande amigo chamado Teófilo. Um palmeirense tão chato quanto qualquer outro torcedor de times adversários. Mas o seu maior ídolo no futebol é o zagueiro Tonhão.

Para os que não se lembram deste zagueiro, ele não era o mais técnico, não era aquele zagueiro que tinha uma excelente saída de bola, mas era um zagueiro sério, que não tinha tempo ruim. Se precisasse chegar mais duro chegava, e era bastante preciso no jogo aéreo. em suma, um excelente zagueiro.

Mas para o Teófilo, Tonhão era Backenbauer. Era seu ídolo. E um belo dia, ele teve a oportunidade de encontrá-lo. Emocionado, se lembra de uma final de campeonato contra o Corinthians. Nesta final, o goleiro alvi-negro se desentende com o "paciente" Edmundo. O juiz, resolve expulsar quem? O Tonhão. Sim, o ídolo de um menino ruivo de Barueri.

Indignado, Teo vai se lembrar do ocorrido para o ex defensor. Em prantos, combinaram de caçar o Ronaldo por "forjar uma agressão", e enfim agredir o ex arqueiro. Tonhão deu risada e apoiou a vendetta de seu fã!

O outro caso, pode não ser tão emocionante como a história anterior, mas é emocionante para que vos conta essa história.

Meu maior ídolo no futebol, como os mais chegados sabem, é Don Diego Lugano. Ele não está nem próximo de ser o maior zagueiro da história do São Paulo, nem o maior zagueiro da história do Uruguai. Mas o cara é raçudo. Sempre foi. E foi o cara que marcou a minha adolescência quando comecei a acompanhar mais sério o futebol.

Bom, desde sua saída após a final da libertadores de 2006, sempre falei: quando ele voltar, eu vou buscá-lo no aeroporto! Depois de uma pressão muito grande minha, e de alguns muitos torcedores, o São Paulo repatria o zagueiro uruguaio. Fui cumprir a minha palavra. Eu, e mais 1100 pessoas.

Claro, nós esse bando de desocupados, e fanáticos pela representatividade desse jogador, mesmo sabendo que ele não jogaria o mesmo que 10 anos atrás, fizemos questão de recebê-lo nos braços. Literalmente. Foi a cena mais emocionante que vi na minha vida, em relação à futebol.

Mas o que essas histórias têm a ver? No último parágrafo, disse sobre a representatividade de Lugano. Para o Teo, a representatividade do Tonhão. Para alguns corintianos, Betão é um dos mais queridos do parque São Jorge (odiado por nós tricolores. Talvez por isso o amor deles ao ex zagueiro).

Um outro exemplo de representatividade é o zagueiro David Braz. Não é de longe um bom zagueiro. É daqueles medianos para baixo. Mas ele vibra tanto, comemora tanto, corre, luta, briga, se esforça, que os torcedores dos times nos quais ele passou possuem boas recordações.

Mas isso tudo porquê? Por quê gostar dos "patinhos feios" do futebol? Eu tenho uma teoria.

O zagueiro, na verdade, é a posição mais difícil de se atuar em campo. Até porquê, ele tem que prever a ação do atacante adversário. É quase um lance exotérico. O zagueiro tem a missão ingrata de parar o cara que mais tem habilidade do adversário, sem fazer falta, jogar a bola no mato, tirar a bola de perto do gol, impedir com que a bola chegue ao gol adversário, iniciar toda a jogada de ataque, e se der, fazer gol quando sobe pra atacar.

Só o fato de você trabalhar com a previsão de determinados assuntos é difícil pra burro! Ou seja, o zagueiro é uma posição mais que ingrata.

Mas é a posição que mais nos identificamos. Pois geralmente, esses zagueiros são caras muito sérios. E de tanta seriedade, às vezes ele acaba se atrapalhando. Ele, é o cara que tem o poder de nos vingar, quando temos vontade de dar uns bons catiripapos no atacante baixinho do time adversário que insiste em fazer gol em nós! E tudo isso, geralmente com uma simplicidade e humildade que nos cativa.

Vai ser o zagueiro, aquele cara que geralmente impede o gol, e que quando faz o gol, comemora igual a nós nas arquibancadas, pulando, berrando, socando o ar, mandando todo mundo pra pqp, e que todos no time, ficam muito felizes ao ver esse cara fazer o gol, justamente por ele nunca fazer gol!

É justamente o beque, que vai impedir na força física, que aparentemente é movida pelos berros das arquibancadas, que vai conseguir tirar impedir o ataque.

E quando ele joga a bola no mato? Ah, não existe um na arquibancada que não grite: "AEEE"!

Ou seja, o zagueiro é o cara que mais representa o torcedor em campo. Justamente por toda a sua vibração que ele passa em campo. Talvez, seja este o cara que mais se sinta inflamado pela torcida. Diferente daquele segundo atacante de cabelinho ajeitado, com chuteiras coloridas.

E quando esse cara consegue fazer tudo isso que lhes foi apresentado, ah meus amigos, esse cara é endeusado. Mais endeusado que o atacante do seu time. E mesmo que não seja, ele sempre terá um espaço no Olímpo do coração dos mais românticos pelo futebol.

sábado, 16 de julho de 2016

A evolução do Futebol - Do impedimento à compactação




Para que a discussão seja realmente produtiva é importante que, antes de mais nada, deixemos claro aqui que: a palavra evolução não necessariamente significa MELHORIA, mas tão somente a continuidade e transformação da existência de algo através do tempo.
Tendo isso claro, vamos ao que interessa.
Muito se comenta e muito se ouve atualmente, em meio a jargões batidos e neologismos exasperados, a expressão "futebol moderno". Mas a que se referem os cronistas, técnicos e dirigentes quando citam a expressão?
Bom, deixando de lado a modernização dos estádios a super exploração do marketing e a gestão dos clubes em moldes empresariais (com todas as implicações que isso tem) o caso aqui é que o "futebol moderno" é um fenômeno que se dá dentro das quatro linhas, no campo.
No passado, nas primeiras décadas do futebol, o que se pode considerar como a "primeira era" do esporte, antes mesmo do surgimento das regras atuais (Grande maioria dessas regras viria do chamado "Código de Sheffield) o futebol era altamente desorganizado em termos táticos, é claro, em comparação com o futebol que conhecemos hoje.
O jogo se dava numa confusão de jogadores próximos à bola, à exceção do Goal Keeper - como eram chamados os arqueiros da época. Os praticantes buscavam levar a bola à meta de forma pouquíssimo organizada o que, em geral, dava vantagem aos mais fortes e mais velozes.
Por motivos óbvios os mais fortes fisicamente podiam passar pelos adversários conduzindo a bola e os mais velozes e habilidosos tinham mais facilidade de escapar dos marcadores, que por sua vez buscavam roubar a bola de forma, também, pouco ordenada.
Em 1863 surgiu, com intento de proporcionar mais organização ao jogo, a primeira versão da regra do impedimento. Esta que exigia ao menos 4 jogadores à frente do atacante. Em 1866 a regra foi alterada diminuindo o número de jogadores que precisariam estar à frente do atacante, de 4 para 3. Em 1907 outra alteração deu conta de que o impedimento apenas poderia ser marcado além da linha do meio campo (campo de ataque) e finalmente em 1925 foi instituído que o número de jogadores que precisavam estar à frente do atacante para validar a jogada seria de 2 e não mais de três.
Essa nova regra visava, além de organizar um pouco mais a partida, dar mais dinamismo e velocidade aos jogos.
A criação e aperfeiçoamento dessa regra extinguiu os esquemas esdrúxulos do século XIX como: 1-1-8, 1-2-7,  2-2-6 e etc. Todos voltados apenas para o ataque e como se pode perceber, com um alto número de atacantes que se acotovelavam na área adversária.
Durante a maior parte da existência do futebol os treinadores viam o jogo como uma prática que obrigatoriamente deveria ser voltada para o ataque e sendo assim os esquemas do início do século XX ainda mantinha resquícios, embora minimizados, do excesso de atacantes e uma fluência bastante diferente de jogo.
Considera-se o 4-2-4 o primeiro sistema tático de fato. Embora este por várias razões ainda pecasse no cuidado com o setor defensivo.
O 4-4-2 criado na Inglaterra e o 3-5-2 criado na Itália são aos os esquemas que deram origem às variações usadas hoje.
A diferença básica entre os esquemas táticos pós década de 30 é que se pode perceber uma maior preocupação com o povoamento do campo e distribuição ordenada dos jogadores. Isso faz com que cada jogador atue numa determinada faixa de campo, executando funções mais específicas e evitando qualquer tipo de aglomeração que atrapalhe a fluência do jogo.
No entanto essa maior organização, durante longo tempo, não impediu que a ofensividade continuasse a ser explorada.
Embora agora houvesse a cautela defensiva e a setorização, os atacantes, por sua vez podiam criar e disso surgiu, em grande medida, a necessidade de se explorar a habilidade e a perícia no passe para que se pudesse romper e trespassar as linhas defensivas adversárias.
A evolução tática levou ao desenvolvimento do conceito de jogo coletivo, mas também ao desenvolvimento das individualidades e da fluência do jogo por meio delas. Como um maestro que coordena uma orquestra.
Junto com a última significativa mudança na regra do impedimento, em 1991, que a tornou como a conhecemos veio crescimento daquilo que os "especialistas" chamariam de "futebol moderno".
Além da aproximação das linhas de defesa, meio-campo e ataque, a partir de meados da década de 1990, também surgiram as ideias do fortalecimento acelerado e precoce dos jogadores e a lógica do jogador multifuncional (ambas já citadas aqui no blog) conceitos que, como já dito, acabam por limitar a habilidade do jogador.
O fortalecimento muscular precoce e a velocidade exacerbada acabam por fazer rarear a figura do "camisa 10" clássico e gerar atacantes de lado de campo que correm muito, mas pecam no drible e em fundamentos como o cruzamento.
A idéia do "multifuncional" que assim como o fortalecimento muscular deveria ser aplicada no final da adolescência é feita muito cedo. Isso faz com que o atleta não se firme de forma qualitativa numa função, para depois adicionar possibilidades ao leque. Assim acabamos por formar jogadores incompletos, que atuam em várias funções, mas não atingem a excelência em nenhuma.
Aquilo que no século XIX e início do XX era uma preocupação desmedida com o ataque se converteu (muito em função do caráter de NEGÓCIO que se tornou o futbol) numa preocupação exacerbada com a defesa (já que derrotas se tornam prejuízo financeiro para os artífices da mercantilização do futebol).
O jogo teve seus objetivos originais aparentemente alterados. A plástica e a originalidade se foram. A política e o mercado prevaleceram. Mas política é um assunto para o próximo capítulo

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Explicando os 7 x 1


Na última década o brasileiro(a) viu a rápida e continua derrocada da seleção brasileira e dos clubes de nosso futebol.
Num primeiro momento os clubes demonstraram este enfraquecimento, tendo sofríveis resultados em embates contra times europeus. A exceção dos vitoriosos São Paulo (2005), Internacional (2006) e Corinthians (2012) os últimos lampejos do poderio de nosso futebol, os outros resultados foram sofríveis.
 As massacrantes derrotas do Santos (Este que já teve o maior time de futebol que o mundo já viu - esquadrão cujo ataque era formado pelos incríveis Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e o "Canhão da Vila, Pepe) frente ao Barcelona, primeiro por 4 x 0 e depois por 8 x 0. Derrotas que mancharam para sempre a história de uma das mais representativas camisas do futebol mundial.
Estes dois jogos são emblemáticos por mostrarem o primeiro dos fatores determinantes para o enfraquecimento do futebol nacional. Foi notório nas duas partidas a postura inferiorizada dos atletas santistas, como se a partida fosse contra seres superiores vindos de um mundo diferente, inatingíveis.
Será que aqueles jogadores fazem alguma idéia de que por décadas aquela camisa foi respeitada nos quatro cantos do mundo e já derrotou praticamente todas as grandes equipes da Europa?
O Santos, antes de mais nada começou perdendo a partida na esfera psicológica. Afinal somos bombardeados por propaganda acerca das equipes européias.
Os vídeo games, comerciais de produtos e etc. bombardeiam nossas crianças e mesmo os adultos. O "show" que permeia o jogo de futebol em si e o caráter de CELEBRIDADES e ídolos da cultura pop que a Europa oferece deslumbra os jovens. Tanto expectadores quanto jogadores das categorias de base, que muitas vezes não conhecem absolutamente nada do passado glorioso das equipes em que eles próprios jogam e pelas quais seus pais e mães torcem. Muitos já foram os relatos de grandes ídolos do passado que passaram pelos corredores dos clubes e não foram reconhecidos pelos pleiteantes ao time principal.
Mas o sucesso do bombardeamento tem a ver, e é possibilitado por uma série de fatores.
Primeiro os dirigentes e autoridades das esferas públicas e futebolísticas parecem trabalhar com sofreguidão para sucatear o espetáculo. Primeiro empobrecendo a festa nas arquibancadas: Proibindo bandeiras, sinalizadores e quaisquer outros aparatos. Sempre com a desculpa da segurança, segurança essa que deveria ser proporcionada por essas mesmas autoridades, que ao invés de trabalhar na raiz cancerosa da parcela violenta e criminosa das torcidas prefere anistiar continuamente os crimes cometidos nas praças esportivas como se os estádios integrassem um mundo separado do mundo real. A isso se assomam os horários esdrúxulos e os plenos poderes dados a emissora detentora dos direitos de transmissão, esta que faz o diabo com os horários e a rotina e exposição dos clubes, preferindo CLARAMENTE alguns clubes em detrimento de outros e buscando uma polarização como ocorre, por exemplo, na Espanha.
A falta de organização estrutural, financeira, estética e de tabelas - essas que são planejadas de forma burra, para dizer o mínimo.
Aspectos estes, que são os primeiros níveis daquilo que afasta o torcedor dos estádios.
Outro aspecto que coaduna e completa as questões já citadas é o evidente e proposital loteamento das categorias de base. Efeito que foi possibilitado por uma lei mal escrita e mal estruturada, para dizer o mínimo, que desguarnece os clubes e os deixa de mãos atadas ante a atuação de empresários que começam a aliciar jogadores e famílias já nos estágios iniciais da formação dos atletas.
As promessas espetaculares daqueles que lucram com a desintegração do futebol brasileiro trabalham lado a lado com o bombardeio midiático dos clubes europeus sobre o imaginário do brasileiro.
O êxodo precoce de nossos maiores talentos nos obriga a montar equipes com o pé de obra que "sobra", este que quando evolui e se torna mais capaz tecnicamente ainda é, mais tarde, aliciado pelo futebol de centros secundários como o leste europeu, Oriente Média e Ásia.
Este êxodo é uma das bases da crescente falta de identificação do público com a seleção já que o nosso escrete é formado em sua maioria por jogadores que muitas vezes sequer passaram por equipes profissionais do futebol brasileiro.
Além de todas as questões geradas pelo supracitado loteamento, temos que conviver com um trabalho mal executado na formação dos atletas. O fortalecimento muscular exacerbado e precoce que faz com que os jovens percam habilidade e agilidade e a cultural do jogador multi função, que é altamente prejudicial se implementada muito cedo já que o jogador acaba por não descobrir qual é a posição em que desempenha seu melhor futebol.
As categorias de base, a exceção do Santos, são apinhadas de empresários e pouco do trabalho é conduzido por ex jogadores, mas sim por profissionais de competência duvidosa.
A cabeça do jogador de base está desde cedo voltada para o exterior o que tem, ano a ano, feito com que os clubes brasileiros se tornem caminhos e não o objetivo final. Isso influencia amplamente na força dos clubes.
Também afetam o processo aspectos pouco notados da vida cotidiana como o processo de extinção dos campos e campinhos de várzea devido a especulação imobiliária entre outros fatores, que está eliminando os locais onde os jovens podiam desenvolver a ta "irreverência" a habilidade e liberdade de desenvolver seu jogo. Nosso futebol está sendo alimentado de "meninos de prédio" que buscam os milhões e a badalação em detrimento da glória nos campos e da busca de objetivos pessoais dentro de esporte, recordes e títulos ou a idolatria da torcida.
Enquanto os jovens atletas estiverem mais preparados para tirar selfies em baladas do que dar mais 10% em campo teremos sérios problemas na formação de atletas e de grandes equipes como um dia já tivemos.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

A UTI do futebol

Um dos maiores erros de análise do futebol é a falta de percepção de grande parte da mídia, e de IMENSA parte dos torcedores, de que títulos não necessariamente representam grandeza ou história no futebol. A Inglaterra é o maior exemplo disso. Tendo vencido um campeonato mundial em casa em 1966 e depois disso jamais chegando à finais de quaisquer competições, a seleção mais antiga do mundo ao lado da Escócia tem a mais irregular trajetória das consideradas grandes seleções.
O que se percebe é uma obsessão por exaltar as seleções da moda. Já que após três títulos de Eurocopa e um mundial, além do ouro olímpico em casa em 1992, sendo três destes títulos citados ganhos pela mesma geração (excepcionalmente talentosa) e que ante os olhares daqueles que só enxergam o "hoje" e, além disso, vêem o título como a única síntese e o espelho de todo um trabalho, fazem da Espanha o "melhor time da história" segundo os "analistas" da superficialidade.
Já os dois títulos mundiais, dois olímpicos e quinze Copas América não fazem do Uruguai um dos grandes do futebol, isso é claro na visão daqueles que entendem pouco da história do futebol.
E o que dizer da Holanda que chegou a seis semifinais de copa do mundo, três finais também de copa do mundo, mais três finais olímpicas e um título da Eurocopa, além de ter montado três dos maiores times que o futebol já viu?
Ou mesmo da antiga União Soviética com o primeiro título da competição, mais três outras finais.
Já no âmbito dos clubes o curioso é que a transitoriedade da "moda" é ainda mais evidente. Em meados dos anos 1990 o marketing fez de dos ingleses e posteriormente dos italianos os "maiores" clubes de todos os tempos. Depois, nos anos 2000 surgiram os, à partir dai "desde sempre", imbatíveis Chelsea e os dois hegemônicos espanhóis Real Madrid e Barcelona.
Mas, aos mal informados, o que dizer dos embates anteriores à tal "colonização" citada anteriormente aqui no Cartolas?
 A "Síndrome de Vira-lata" auto imposta por parte dos sul-americanos endeusa como imbatíveis equipes que, além de depender de forma visceral dos jogadores garimpados de África e América disputam (à exceção da Premiere League) campeonatos fraquíssimos recheados de equipes que desfilariam cambaleantes pela zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro.
Ainda durante essa e a década passada três dos maiores clubes brasileiros, primeiramente São Paulo que em 2005 venceu o poderoso Liverpool do goleiro Reina que já somava onze jogos sem ter sua meta vazada.
 Já no ano seguinte o Internacional de Porto Alegre venceu o SUPERPODEROSO e MIDIÁTICO Barcelona jogando de igual para igual com a equipe catalã recheada de jogadores contratados a peso de ouro. Uma seleção do mundo. Sequência essa que teve seu último capítulo (até agora) com o incontestável título do Corinthians sobre o bilionário Chelsea e seus craques bancados por infindáveis "Petrolibras" ou "Petrodólares", como queiram.
O que estes títulos têm em comum? O futebol! O futebol superando as cifras. Mostrando que apesar do assédio biliardário do futebol europeu sobre nossos jogadores e da publicidade que joga lado a lado com as equipes do velho mundo o futebol ainda respira.
Ainda no mérito do supervalorizado futebol europeu ainda é preciso citar o absurdo da afirmação de muitos, de que a Espanha produz jogadores aos montes em suas categorias de base. Ora, se essa produção é tão vigorosa, por qual motivo o clube catalão teve sua gloriosa galeria de títulos preenchida graças ao labor de Holandeses, Argentinos e Brasileiros, entre outros?
O curioso é que o efeito da mídia e a influência dos meios de comunicação, do belo e completo trabalho realizado pelos profissionais de comunicação e marketing dos atuais clubes da moda tem inclusive o poder de "apagar" as galerias de títulos de clubes como Boca Juniors, São Paulo, Santos, Nacional URU, Peñarol e mesmo grandes clubes europeus fora dos chamados "Grandes centros" como por exemplo os bicampeões europeus Porto e Benfica ou o tetracampeão europeu Ajax.
Os que pouco observam a trajetória histórica dos gigantes do futebol ignoram o funcionamento da engrenagem que move o pernicioso Futebol Moderno e como o dinheiro sobrepuja a beleza de conquistas de pequenos e valentes equipes como Steaua Bucareste (Romênia), que venceu a Liga dos Campeões da Europa diante do poderoso e rico Barcelona na temporada 1985/86 ou o Estrela Vermelha (Iugoslávia) campeão na temporada 1990/91.
Ao que parece a geração presente quer, de alguna forma, extirpar as glórias dos clubes menores, como se fossem algo ridículo. Sufocar aquilo que é a beleza do esporte e aquilo que o tornou o grande esporte do planeta: A possibilidade de Davi vencer Golias, do pobre se igualar ao rico por meio da garra e talento.
A geração de hoje parece querer a mesmice da polarização forçada. Se esquecendo de que o mundo, muito mais do que dos melhores e mais ricos, se faz dos menores que escalam montanhas com a força das próprias mãos e não de cordas feitas de dinheiro.
O futebol respira por aparelhos.
O



terça-feira, 21 de junho de 2016

A colonização do futebol sul-americano




Em 1434 Gil Eanes, navegador português, com uma tática sofisticada (e arriscada sob o ponto de vista de muitos) cruzou o temido Cabo Bojador ou "Cabo do Medo" (Barreira física que impedia que as embarcações pudessem circunavegar toda a extensão da costa africana) como era também conhecido já que superá-lo, até aquela altura do século XV se mostrava impossível ante as condições geográfica e tecnologicamente adversas.
 Após o triunfo de Eanes abriu-se um novo mundo de possibilidades à nação ibérica. Amparados por uma situação econômica e governamental favorável, além de moralmente embalados pela conquista da Cidade islâmica de Ceuta (cidade localizada num ponto geograficamente estratégico) os portugueses partiram para uma avassaladora onda de conquistas que se seguiriam nos anos vindouros.
Mas que diabos isso tem a ver com o futebol (que estava ainda muito longe de ser concebido da forma como o conhecemos)?
A resposta é simples: Assim como uma gigantesca expansão territorial e de influência política e cultural, inicialmente encabeçada por Portugal, imediatamente seguida nos anos próximos por Espanha e depois por muitas outras nações européias que, a começar por África e poucas décadas depois América, varreu o mundo naqueles tempos - no âmbito do futebol teve início entre o final dos anos 1970 e início dos anos 1980 tendo como colônias de exploração preferidas as terras além do Atlântico.
Assim como a expansão territorial foi motivada por uma série de fatores e pela combinação deles e, em grande medida, também possibilitada por outras tantas causas uma igualmente propícia conjunção de fatores ocorreu com o futebol.
Nos primeiros anos da década de 1980 o Futebol Brasileiro já era tri campeão do mundo; havia mostrado ao planeta o "Rei" do esporte; formado alguns dos mais fantásticos esquadrões que o universo futebolístico já vira; arrastava multidões aos estádios e sobretudo suscitava nas crianças e jovens, praticantes do esporte, o desejo de jogar nas, SIM, mais poderosas (futebolisticamente) equipes do mundo; Flamengo de Zico, Corinthians do Dr. Sócrates, o EXPLOSIVO Vasco de Dinamite (eu não podia deixar a piada passar) os Menudos do Morumbi que viriam e a primeira geração de Meninos da Vila mais famosa do mundo.
 Enfim, o frutífero futebol praticado aqui, embora mantivesse a essência que o fez se espalhar pelo globo, começava a sofrer com a sincronia entre o esporte e a terra onde ele é praticado.
A economia decadente; os altos índices de pobreza e analfabetismo; a hiperinflação, estes eram apenas alguns dos problemas pelos quais o Brasil passava. Problemas estes que, obviamente, se estendiam ao futebol. O atenuante para uma debandada não tão massiva de nossos melhores jogadores, naqueles tempos, era o hoje moribundo "amor à camisa". Muitos jogadores viam os clubes como uma extensão de suas casas - sendo assim algo a ser respeitado. Os campos de várzea e os pequenos campinhos eram ainda abarrotados de crianças numa época em que o real era mais impactante do que o virtual. Os campos e quadras de futsal divertiam as crianças como hoje, infelizmente, os tablets, celulares e afins, fazem - criando uma geração carente de algumas interessantes características.
A Europa no mesmo período caminhava em franca recuperação estrutural, social e econômica depois de viver, no mesmo século, os dois maiores conflitos armados já vistos no mundo.
 O futebol , e a excelência em sua prática, era mais um dos elementos de reafirmação do poder do velho continente e da recuperação da lógica eurocêntrica (apenas mais um dentre outros mais importantes). Isso aliado ao fato de que os europeus começavam a perceber o potencial econômico daquele esporte foram alguns dos fatores (não todos) que levaram grande parte dos países da Europa a estruturar seus clubes e o futebol em moldes empresariais. Em alguns centros o "pé de obra" europeu não era suficiente para gerar o poderio necessário dentro de campo. E então, assim como Portugal, lá no século XV pôde se aproveitar do fato de ser uma dos poucos reinos europeus a não estar vivendo conflitos armados com outros reinos (guerras que causam despesas gigantescas às partes envolvidas) nem conflitos ou perturbações internas) e por isso estar estável organizacional e financeiramente para investir em tecnologia náutica (com auxilio do conhecimento e instrumentação árabe), a Europa dos anos 1980 com seu poderio financeiro e seus projetos empresariais e de marketing para a exploração do futebol, e claro) o momento propício se lançou à America do Sul para explorar o futebol daqui assim como os reinos ibéricos fizeram, com os recursos e riquezas, séculos antes.
Portugal demorou entre 40 e 60 anos para se estabelecer na chamada América Portuguesa, atual Brasil e algumas porções de Argentina e Uruguai e com o movimento expansionista do futebol europeu não foi diferente. Este processo gradativo de "colonização" do futebol sul-americano começou a dar frutos substanciais apenas alguns anos mais tarde. Mas, curiosamente, a idéia que se consolidou no imaginário dos mais jovens é a de que Barcelona, Real Madrid, Manchester United, Milan e outros midiáticos e "empresariais" clubes europeus sempre foram infinitamente superiores aos também gigantes sul-americanos como Peñarol, Independiente, Boca Juniors, Nacional do Uruguai, São Paulo, Santos e outros tantos. O que absolutamente não é verdade. A julgar pelo fato de que o Barcelona, atual clube da moda teve grande parte de sua história construída a partir do talento de Holandeses, Argentinos e Brasileiros e hoje, por exemplo, a espinha dorsal do time é formada por Messi (ARG), Neymar (BRA), Suárez (URU) e Mascherano (ARG). O arqui-rival do clube catalão, Real Madrid tem como seu maior nome o argentino Di Stefano.
Os mais jovens infelizmente não fazem ideia de que os clubes sul-americanos já tiveram SIM poderio técnico para derrotar casualmente os gigantes europeus.
 A relação de interdependência da "Metrópole" com a "Colônia Futebolística" é clara.
Ao longo dos anos 1990 devido a mudança das leis regulamentadoras da relação Clube - Atleta e com o sucateamento do futebol nacional, este, gerado entre outras coisas pela incompetência administrativa dos clubes; as relações espúrias entre empresários; dirigentes de clubes e pais e mães de jogadores deslumbrados pela idéia de fama e fortuna oferecida pelo futebol europeu geraram o loteamento das categorias de base.
 Este processo mais tarde culminaria na decadência da qualidade técnica e tática do futebol sul-americano e influenciaria no enfraquecimento das seleções do nosso continente.
Cabe também dizer que um dos piores e mais evidentes aspectos dessas colonização e extração esportiva é que assim como na colonização territorial toda a cultura produzida por um ou vários povos é assimilada e descaracterizada de maneira forçada. Mas isso é papo pro próximo episódio de "Como destruir o futebol local", série de sucesso entre os dirigentes do Brasil

domingo, 19 de junho de 2016

Sinais amarelos para a Copa do Mundo na Rússia em 2018

Caros botequeiros, estamos de volta, e mais fortes do que nunca!

E vamos lá.

Em 1986, a copa do mundo deveria ser sediada na Colômbia. O campeonato mundial conquistado pelos argentinos (encabeçados pelo endiabrado Don Diego Maradona), foi mudado de sede sob a desculpa esfarrapada de que a Colômbia passava por problemas econômicos.

Aos que viveram a época, podem falar com maior propriedade. Mas, nós estudantes e devotos deste venerável esporte bretão (chupa André, falo mais palavras cultas que você), bem sabemos que foram questões sociais que afastaram a copa do solo colombiano. 

A década de 80 na Colômbia, foi marcada por uma série de conflitos pelo poder colombiano. De um lado, o governo respaldado pelos estadunidenses, com a justificativa de combater o narco-tráfico e o comunismo nas Américas, e do outro lado, traficantes de drogas que tentavam assumir o poder, liderados por Pablo Escobar. Lógico, todo esse contexto abordado de maneira resumida, foi o verdadeiro motivo do local da copa ser alterada.

Mas o que isso tem a ver com o título da matéria? Tudo.

Na faculdade de história, lembro-me de uma máxima nos primeiros dias de aula: "A história nunca se repete. Podem ocorrer fatos semelhantes, com o mesmo desfecho e outros nomes". Ou seja, meus caros, a situação atual da Rússia, está extremamente preocupante em um âmbito social, tão quanto na Colômbia nos dançantes anos 80.

Começa com a queda de vários membros da alta cúpula da FIFA, incluindo Jérome Valcke, e Joseph Blatter, sob denúncias de corrupção para que as copas de 2018 e 2022 fossem realizadas na Rússia e no Qatar respectivamente. Todo esse escândalo, coloca em cheque a questão moral dos políticos em ambos países.

Logo, vemos a Rússia, que toma a região da Crimeia pertencente à Ucrânia, aspirante a grandes chances de uma vaga em copa do mundo. Tendo isso em vista, como os torcedores conterrâneos do grande atacante Andrey Shevshenko (imbatível no Winning Eleven 8) serão recebidos em território russo? Provavelmente de modo hostil, tendo em vista a resposta do governo russo em relação aos Hooligans ex-soviéticos.

Semana passada, Holligans russos e ingleses se enfrentaram em solo francês, antes da partida. A polícia francesa prendeu os torcedores de ambos os lados. Contudo, o que mais destacou, não foi só o horrendo ato. O que destacou, de modo extremamente negativo, foi uma carta do governo russo os chamando de "Homens de Verdade", parabenizando a ação psicótica de seus compatriotas.
Hooligans russos se enfrentando contra os ingleses. (fonte:http://br.investing.com/news/not%C3%ADcias-gerais/hooligans-russos-treinaram-para-a%C3%A7%C3%A3o-violenta-em-marselha,-diz-procurador-186496)

Agora, imaginem o que irá acontecer com os torcedores contrários às suas convicções? Torcedores ucranianos, estadunidenses, ingleses, dentre outros rivais políticos, poderiam ir assistir a copa de maneira segura?

Lembrando também, que a Rússia possui leis severas contra a homossexualidade no país. Imaginem torcedores homoafetivos em solo russo? O que poderia acontecer?

Isso, sem contar que a Rússia se posiciona como um país extremamente fechado politicamente, aonde poucas pessoas sabem o que se passa por lá.

A grande questão, é que a Rússia, um país belíssimo, não garante a segurança necessária para receber turistas de todas as partes do globo terrestre. Diferentes países, abordam diferentes culturas, que se opõem à cultura russa. E esses casos de intolerância vistos na Eurocopa, e nos noticiários que registram casos de xenofobia e homofobia, e o respaldo do governo russo à favor dos cidadãos que cometem infrações, que fora de seus países são crimes, não mostra segurança alguma aos turistas que vão ao gélido país.

Assim como na década de 80, vemos um país que oferece riscos aos seus visitantes. Pela lógica, a Rússia não é o país mais indicado para receber, por hora, uma copa do mundo. Mas diferente da Colômbia, os russos possuem dinheiro. E muito. Vejam o dono do Chelsea, por exemplo. E isso, é um fator determinante para fazer  com que a Rússia se mantenha como anfitriã do maior evento social esportivo do mundo.

Agora, até que ponto, o poder aquisitivo deve superar a segurança de seres humanos? Espero, que o governo russo apresente garantias legais junto à FIFA que garantam a segurança dos cidadãos russos e de todo o mundo. 

Contudo, por hora, o governo russo dando respaldo ao hooliganismo, não nos traz nenhuma boa esperança. O único sentimento que nos trás, é o de medo.

Nota.: André é o nosso novo colunista cartoleiro. Em breve, mais postagens minhas, do Gustavo e do nosso novo confrade.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Futebol de "Primeira Classe".

Amparados pela idéia das famigeradas NOVAS ARENAS alguns dos maiores clubes do Brasil estão, por meio do alto preço dos ingressos e da péssima formatação dos programas de "sócios", filtrando (na pior conotação que pode se aplicar à palavra) o perfil do torcedor que frequenta as praças esportivas futebolísticas. E para abrir a discussão eu deixarei uma reflexão: Os maiores clubes do Brasil têm torcidas que giram na casa dos milhões - as maiores inclusive passando da casa da dezena de milhão - sendo assim o "grosso" do contingente de torcedores é infalivelmente composto por uma população de baixa ou média renda. Já que obviamente não temos no Brasil milhões e milhões de milionários.
Ainda no âmbito da discussão quantitativa fica fácil dizer que com a sofrível estrutura (em termos de abrangência) dos programas  sócios dos clubes,  que eles criam um "clubinho" daqueles que têm o direito de acompanhar aquela que durante mais de um século foi a diversão das massas. Os lugares restantes nessas ARENAS, os poucos que ficam disponíveis para o grande público têm seus ingressos a preços abusivos.
 A filtragem do público (fenômeno que ocorre também, embora em menor escala, nos estádios mais antigos) acontece de forma crescente nos  e ARENAS do país.
Consideremos o salário mínimo brasileiro que não atinge 900 reais. Agora imaginemos que um ingresso para uma partida de relevância secundária custe por volta de 50 reais e que o ingresso para um jogo decisivo custe por volta de 150. Imagine o estrago que a diversão e paixão, anteriormente POPULAR, não causaria no orçamento mensal de uma família padrão?
Argumentos como: "aquele que compra mais tem mais privilégios"; "É um prêmio à assiduidade" são disparados aos montes, mas que assiduidade pode ter um cidadão que, antes de qualquer hobby, precisa sustentar sua família com um ordenado mensal rarefeito?
 Este cidadão de baixa renda. Aquele que constitui, em maior número as enormes torcidas do futebol brasileiro, tem sua assiduidade como torcedor interrompida pela barreira representada pelos valores dos ingressos e fomentada pelos falhos programas de sócio. Programas estes que negam inclusive um setor do estádio que seja reservado aos torcedores que apoiaram os clubes ao longo de suas histórias, em alguns casos, centenárias.
Talvez a intencionalidade por trás  filtragem social do público de futebol explique a drástica diminuição da capacidade dos estádios, já que dificilmente se conseguiria 120, 150 mil pessoas que pagassem mais de cem reais por um ingresso.
A paixão dos torcedores que é, antes, sufocada a cada dia pelo loteamento inescrupuloso das categorias de base, que afeta diretamente a qualidade do futebol praticado em nossas terras, e pelo poder midiático exercido pelas equipes europeias, este que cria o absurdo entre os adolescentes - que deixam de lado os clubes nacionais e se declaram torcedores do Real Madrid, do Barcelona.
 Essa mesma paixão que elevou os clubes brasileiros a um alto nível nas décadas de 50,60, 70, 80, 90 e o início dos anos 2000 enfrenta agora, além da decadência técnica, tática e organizacional, a deliberada filtragem do perfil do torcedor. Eliminando as massas, que como no caso do Corinthians, por exemplo, dão característica aos clubes.
O que se expõe aqui não é a baixa média de público nos estádios (no caso de Palmeiras e Corinthians as médias são altas) o que se aponta aqui é a tipificação forçada do público; O futebol excludente; A mudança forçada da característica do frequentador do estádio; A exclusão de um em detrimento do outro quando poderia haver a mescla. O tal "Futebol Moderno", modernidade que, ao que parece, renega o pobre