domingo, 29 de janeiro de 2017

Títulos, Rebaixamentos, Mundiais, FIFA e afins

Caros ébrios,

Para a compreensão deste texto, peço que deixem de lado o clubismo que nos acompanha como torcedores, e vejam pelo lado mais crítico.

Nesta semana, está em discussão a notícia veiculada pela FIFA, que em nota afirma que apenas os mundiais a partir de 2000 são legítimos. Para dar a minha opinião, vou recorrer antes a outros fatos do futebol.

Em 2002, o campeonato Paulista foi ganho pelo Ituano, clube da cidade de Itu (Acredita que era Itu e não Pirapora?). Neste ano, os 4 grandes de São Paulo, disputaram o extinto Torneio Rio-São Paulo, e por esse motivo não participaram do campeonato paulista. 

Agora lhes faço a seguinte pergunta: Isso diminui a conquista do time de Itu? Por não ter jogado com os ditos grandes da capital paulistana? Se olharmos de maneira clubista, sim. Porquê eles não possuíam time para enfrentar os grandes, etc. Mas lhe desafio a falar isso para um torcedor fanático do Galo de Itu! O regulamento da FPF deixou claro isso, e o Ituano foi o então campeão do torneio. Independente se foi de baixa qualidade técnica naquela partida.

Mas esse campeonato foi muito estranho de fato. Você não consegue imaginar um campeonato Paulista sem os grandes da capital. 

Essa conquista, mal é lembrada por quaisquer aficionados por futebol de São Paulo. Mas é lembrado e comemorado pelos torcedores do Ituano. E ninguém discute isso.

Porém, quando se trata de clubes grandes, a história muda.

Simplesmente por tentarmos sempre achar maneiras de tentarmos diminuir a história de nossos rivais tentando achar máculas nas respectivas histórias. Darei exemplo dos 3 grandes da capital.

Muitos amigos torcedores de times rivais, vêm me falar do suposto descenso do SPFC em 1990. Pois fomos os últimos colocados naquele ano, e depois disputamos uma espécie de "mata-mata" entre as equipes daquele ano. Contudo, em 1990 pela regra que está disponível no site da FPF (www.futebolpaulista.com.br), não havia rebaixamento naquele ano. Agora, fale isso para um torcedor rival...

Já em 2000, o Corinthians sagrou-se campeão mundial, após uma disputa de pênaltis contra o Vasco da Gama. Desde aquela época até hoje, o torcedor alvinegro escuta aquela velha piada: como pode mundial sem Libertadores? Simples. Pelo regulamento do campeonato, o campeão nacional jogaria o polêmico campeonato mundial. O Corinthians, ganhou aquele campeonato. Não sejamos hipócritas. Foi merecido. Algo semelhante quase aconteceu ano passado, quando o Kashima Antlers levou o "poderoso" Real Madrid para a prorrogação. Se eles tivessem sido os campeões, seriam sem ter conquistado a "Libertadores da Ásia". Eles eram "apenas" campeões nacionais.

E em 1951, o Palmeiras foi campeão da Taça-Rio. Campeonato, no qual foi considerado por toda mídia do país como Mundial de Clubes. Tendo em vista, que esse título foi após o até então maior desastre do futebol brasileiro. Aquele título, foi visto como uma espécie de alento aos torcedores brasileiros da época. Contudo, no século passado, um ex-ministro pede que a FIFA reconheça esse título como mundial, então desconhecido pelos torcedores de outras agremiações (e também dos não tão fanáticos pela torcida alvi-verde). O reconhecimento veio por Fax, e o Palmeiras se tornou campeão mundial, de um torneio ganho no ano seguinte pelo Fluminense que não obteve o mesmo reconhecimento.

Depois desses 3 exemplos, lhes pergunto: O São Paulo foi rebaixado? Corinthians pode ganhar um mundial sem Libertadores? Palmeiras tem mundial?

Meus caros, não importa o que torcedores e instituições digam, quando falamos de paixão. Se acharmos que não caímos, ou que somos campeões de determinados campeonatos, não vai existir nada que nos impeça de falar isso. 

Contudo, o maldito do lado técnico e "profissional" que temos que submeter nossos sentimentos hoje em dia, exige que confiemos nestas instituições. Nós torcedores românticos, a utilizamos ao nosso prazer esses regulamentos e usamos quando queremos para fazer o papel de advogado de defesa dos nossos times no "Bar da Dita" mais próximo.

Segundo a FPF, o SPFC não caiu. Segundo a CBF, o Palmeiras tem 9 campeonatos brasileiros, e o Corinthians é 2 vezes campeão mundial. É o frio regulamento.

O que quero dizer com tudo isso, é que pouco importa toda essa discussão. Obviamente, a FIFA irá valorizar apenas os campeonatos organizados por ela. Para os uruguaios, eles são tetra campeões mundiais. Segundo eles, os ouros ganhos nas olimpíadas antes de 1930, são mundiais tão quanto os de 1930 e 1950. Eles se importam com o que a FIFA diz? Acredito que nem um pouco...

Agora, só você torcedor sabe a dificuldade do seu time em ganhar qualquer campeonato. Só você sabe a história, e só você sabe como é bom gritar É CAMPEÃO! 

Duvido, que o torcedor vascaíno, ou de qualquer outro clube não gostaria de ter ganho o mundial de 2000. Duvido, que qualquer torcedor do país, não gostaria de que em 1951 ganhasse um campeonato e fosse chamado pela mídia brasileira como um todo de campeão mundial, servindo de um alento para o deprimido torcedor brasileiro após uma tragédia no Rio de Janeiro. Até mesmo o campeonato paulista de 2002!

Não importa o que o torcedor do clube rival diga. Só nós sabemos a grandeza de nosso clube. E nossa paixão não deve ligar para o que uma instituição futebolística diz. Talvez, se ela não estivesse envolvida em tantos casos de corrupção...

Tendo em vista todo esse desabafo, realizado neste breve texto, encerro com uma pequena frase cativante, de forte impacto e que resume todo este ensaio:

FODA-SE, FIFA!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Nova medida da FIFA - Desvalorização do futebol Sul-americano


Ontem a FIFA, entidade máxima do futebol mundial, expôs em nota em seu site oficial que apenas são considerados campeões mundiais os clubes vencedores à partir do ano 2000 (Quando com um time espetacular o Corinthians venceu a equipe do Vasco da Gama em final disputada no Rio de Janeiro). Pois bem. Primeiro consideremos os fatos: a nomenclatura é, nesse caso, mera formalidade já que é inegável a importância das conquistas dos 25 clubes que se sagraram campeões da então Copa Européia-Sul-Americana ou Copa Intercontinental. Por motivos óbvios equipes dos outros continentes não eram incluídas já que ao contrário de América do Sul e Europa os outros continentes tinham um futebol ainda embrionário, amador em todos os aspectos. Nos Estados Unidos, por exemplo a liga do lá chamado “soccer” foi amadora até meados dos anos 2000 com a criação da MLS. Na Ásia o futebol só deixou de ser amador à partir do final da década de 1980 quando nomes como Zico e Toninho Cerezo desembarcaram no Japão dando os primeiros passos para a futura J League. Ou seja, não faria sentido técnico que equipes norte americanas, africanas ou asiáticas tomassem parte na disputa já que seriam massacradas pelos verdadeiros esquadrões de times como Milan, Ajax, Real Madrid, São Paulo, Santos, entre outros.
O que se percebe nessa iniciativa da FIFA é não somente uma simples questão de nomenclatura, mas o total “rebaixamento” moral e histórico dos times sul-americanos (com os quais a FIFA nunca, de fato, se importou). Agora segundo a contagem os sul-americanos (mais precisamente brasileiros) têm 4 conquistas, enquanto os europeus têm 9. Claro, sem contar o “misterioso” hiato entre o final de 2000 e 2004.
Então, você torcedor de Inter, Corinthians e São Paulo, antes de caçoar de seu colega que torce para um campeão intercontinental, pense antes no que a entidade máxima do futebol quer, e está fazendo com os sul-americanos em nome de seus queridinhos europeus.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Pra que serve o futebol?


Aqueles que não são afeitos ao futebol costumam resmungar pelos cantos “por que você assiste isso?”. “Que graça tem essa porra?”. “Os caras tão ricos e você ai gritando sem ganhar um tostão”.
Este ensaio nada mais é do que uma resposta aos ignorantes (no aspecto mais puro da palavra - ‘aqueles que ignoram, desconhecem’) acerca dessa arte praticada nos gramados, ruas e campos de terra e areia do mundo todo. Para que a questão fique clara é preciso que voltemos alguns milhares de anos no tempo - quando a humanidade ainda caminhava sobre as planícies em busca de alimento - para as paredes das cavernas.
É amplamente aceito entre os estudiosos que as pinturas rupestres, em sua maioria, ilustrando guerreiros caçadores abatendo suas presas, eram um rito cerimonial através do qual os homens e mulheres primitivos acreditavam capturar a alma de suas presas e que assim no momento do ataque já teriam a vitória praticamente garantida. Isso, muito provavelmente, lhes dava força e motivação extra para enfrentar as dificuldades do dia-a-dia.
Os ameríndios brasileiros, por sua vez, travavam batalhas e guerras alegóricas. O objetivo de suas escaramuças era provar sua bravura. E mesmo o ato de devorar o adversário vencido era cerimonial, pois dessa forma acreditavam estar se nutrindo das forças e coragem do inimigo.
Mesmo o antigo povo helênico tinha em seus deuses não uma simples devoção religiosa, mas um pano de fundo para as histórias de sua linhagem; para os feitos de seus heróis antigos e antepassados. O mito é o intermediário entre o ser humano e sua experiência de vivenciar o mundo. A maravilha da espécie humana e um dos principais elementos que nos possibilitou sobreviver como espécie é a habilidade de criar ficção. De rir, chorar, sofrer, criar coragem e força através de coisas e situações que nós mesmos criamos. O futebol é parte desse espetáculo de idéias criado pela mente humana e contém em si todos os elementos dignos das mais incríveis epopéias gregas... O mais fraco que vence o mais forte desafiando todos os prognósticos; as reviravoltas inesperadas, a força da superação e o alcance dos feitos dos “heróis” e “vilões” das quatro linhas. E como disse o historiador inglês Eric Hobsbawm:

"A dimensão identitária da nação tem um lócus especial nos esportes, estes seriam uma espécie de reduto do nacionalismo moderno, e as Copas do Mundo de futebol ao longo de sua história se transformaram em evento símbolo desse nacionalismo."


Então, da próxima vez que perguntarem a você “pra que serve o futebol” diga a pessoa que se pergunte para que servem os mitos e lendas que o ser humano cria.

Nunca será só um jogo.

domingo, 18 de setembro de 2016

A crise da arbitragem


A crise da Arbitragem é um tema que se faz presente, a cada dia com mais intensidade, nos últimos anos. Mas, a que isso se deve? De onde (além do próprio campo de jogo) vêm as impressões de que os árbitros têm errado cada vez mais?
Pois bem. A resposta não se limita aos gramados nem ao talento (ou falta dele) para a mediação do jogo. E é ai que a merda acontece.
Se consultarmos a regra 5 do futebol veremos que seu primeiro item diz sobre o árbitro que sua função é "de fazer cumprir as regras do jogo". Sendo assim os juízes, como são popularmente chamados, têm a função de mediar conflitos, observar infrações e zelar pela fluência das partidas - preceitos estes nos quais as equipes de arbitragem têm falhado ridiculamente.
Num tempo distante, em que o futebol tinha outro ritmo e a tática, e mesmo algumas das atuais regras não existiam, as infrações eram estabelecidas por "acordos de cavalheiros" entre as duas partes. Até que em 1868 surge a figura do árbitro, esta que só ganha plenos poderes no campo de jogo quase três décadas depois.
No entanto, durante a maior parte do tempo em que se praticou o futebol, tanto o ritmo; velocidade; tática e regras mudaram, dificultando o papel da equipe de arbitragem.
A velocidade (que ano a ano substitui a técnica) tem aumentado vertiginosamente nas últimas décadas, assim como o dinamismo tático. Tudo isso agregado ao fato de que a quantidade e qualidade das câmeras, e por consequência da captação de imagens, deu um salto nas últimas décadas. Lances que no passado eram imperceptíveis a olho nu agora são minuciosamente destrinchados por dezenas de softwares e analistas que não sofrem com a pressão das arquibancadas e têm todo o tempo para analisar as repetições do lance, em câmera lenta, por diversos ângulos... Serviço que qualquer um, mesmo sem um pingo de capacitação, poderia fazer tranquilamente.
Por outro lado há, evidentemente, a incompetência técnica ou mesmo física, ambas que levam ao erro humano. Incompetência essa que também tem aido crescente nos últimos anos. (Que se deve a muitos fatores - desde a preparação até a questão da profissionalização da classe) Ou seja, tudo isso se soma às transformações, já citadas, na prática do jogo colaborando para a queda de qualidade. Além disso há outra questão: A má intenção ou, como popularmente é chamada, "operação".
Este assunto é tratado de forma hipócrita e até mesmo burra, por parte da grande maioria de comentaristas acéfalos que povoam a crônica esportiva Brasileia. Mas é evidente que além de todos os fatores elencados aqui há que se colocar nesse balaio os casos absurdos de manipulação, como o que o ocorreu no Campeonato Brasileiro de 2005 (que manchou a competição naquele ano), ou mesmo o grandioso esquema desmantelado no campeonato italiano em 2006 que culminou com o rebaixamento e a cassação dos dois últimos títulos da Juventus anteriores àquele ano.
Também há que se ressaltar a pornográfica atuação do árbitro Carlos Amarilla prejudicando o Corinthians em partida contra o Boca Juniors válida pela Copa Libertadores da América de 2013.
Casos como esse colocam em cheque muitas arbitragens falhas (ou teoricamente falhas) e o que as teria levado a resultados tão catastróficos no que se trata de performance. É muito difícil que se compreenda a qual dos fatores acima se devem muitas das vergonhosas atuações. Além do efeito Davi e Golias nas arbitragens que leva o árbitro, muitas vezes, a decidir pelas equipes grandes nos momentos de lances duvidosos. Alguns times, inclusive, sendo muito mais frequentemente ajudados (não há citações a nomes porque não tenho dinheiro para pagar processos)
O interesse financeiro que permeia o certame; a pressão da mídia e das torcidas; o interesse dos detentores dos direitos de transmissão; empresários e muitas outras questões talvez pudessem ser menos influentes no processo decisivo dos árbitros através do emprego da tecnologia no futebol, assim como acontece em diversos outros esportes, de forma dosada e coerente. Talvez essa seja a única forma de preservar ou reaver qualquer lisura que possa haver no futebol. Porque muito ao contrário do que diz a regra 5 os juízes há muito tempo não têm feito mais cumprir as regras do jogo, não em sua plenitude.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

O Quinto Grande



"Vamos à luta, ó campeões,
hão de vibrar os nossos corações
Na tua glória, toda certeza,
que tu és grande, ó Portuguesa!
Vamos à luta, ó Campeões,
há de brilhar a cruz dos teus brasões
E tua bandeira verde-encarnada,
que é a luz da tua jornada!
Vitória é a certeza
da tua força e tradição
Em campo, a Portuguesa,
pra nós, és sempre um time campeão"





Às vezes eu me pergunto para que serve a memória. Sim, a memória. O emprego da memória no mundo esportivo, que devia ser enraizada, não existe nos dias de hoje.
O objetivo das disputas futebolísticas é, além da vitória por si só e além dos títulos, encantar. E esse encantamento, de um drible, um lance, uma jogada que contraria a lógica - é disso que se faz o futebol - e mesmo quando se fala de "título" a própria palavra já nos remete à memória... Algo que veio e se foi, embora o momento e a forma como aconteceu fiquem gravados nas mentes de quem presenciou ou nos títulos, nos gols, nas vitórias, nas páginas amareladas de jornais, nas vozes dos cronistas.
Vamos falar aqui daquele que é sim (embora degradado e maltratado por sucessivas más administrações e mesmo pela arbitrariedade dos tribunais) O quinto grande do futebol de São Paulo: A Associação Portuguesa de Desportos.
Em 14 de Agosto de 1920 foi fundado o clube, que surgiu da união de outras sociedades lusitanas e apenas quinze anos depois de sua fundação conquista por duas vezes seguidas o já tradicional Campeonato Paulista. Isso após sua união com o Mackenzie para a disputa dos campeonatos na década de 20.
Neste período a Lusa ainda mandava seus jogos no antigo estádio da Rua Cesário Ramalho no Cambuci. Tendo à época algo que poucos clubes no Brasil possuíam: Um jogador campeão do, Filó (campeão do mundo de 1934 pela seleção italiana), que ingressou na equipe rubro-verde na década de 30.
Desde os anos 40, já uma grande reveladora de jogadores, a Portuguesa montou uma fantástica equipe que daria frutos nos anos 50 e que, antes do grande Santos de Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe e do Botafogo de Garrincha, Zagallo, Didi e Nilton Santos, foi o grande time do futebol brasileiro.
Campeã do torneio Rio-São Paulo nas edições de 1952 e 1955 (quando este era o mais importante torneio do país) a Lusa foi uma das mais poderosas equipes do país na década.
Outro grande momento da Portuguesa foi na década de 70 quando foi novamente campeã paulista, além de inaugurar sua casa definitiva: o estádio Oswaldo Teixeira Duarte ou popularmente, Canindé.
Mas o que teria levado um clube que, em vários períodos da história do futebol nacional, foi protagonista no cenário dos grandes clubes, a uma derrocada tão vertiginosa?
Até meados dos anos 90 a Portuguesa chegava a fases agudas de campeonatos que disputava, sendo finalista do campeonato brasileiro de 1996 além de frequentemente vencer São Paulo, Corinthians, Palmeiras e Santos, além de outras potências do futebol nacional.
Talvez um dos motivos da queda de produtividade e do esquecimento da grande Portuguesa, que já teve em seus plantéis jogadores como Julinho Botelho, Enéas, Roberto Dinamite, Basílio, Zé Roberto, Dida, Dener entre dezenas de outros, seja além das pavorosas administrações do final dos anos 90 e ao longo dos anos 2000, seja o nome.
Muitos crêem que o nome, ligado intimamente à colônia lusitana, tenha sido um dos freios da manutenção da Portuguesa na elite do futebol brasileiro. Ao que se imagina a fortíssima conexão com as origens portuguesas teria limitado o crescimento da torcida, por exemplo, a descendentes de portugueses.
Ao contrário do que houve com Cruzeiro e Palmeiras, ambos chamados de Palestra Itália antes da Segunda Grande Guerra (período em que se iniciou perseguição às colônias alemã e italiana), mas que após a mudança de nome angariaram muitos outros torcedores além das colônias italianas.
Além do fatídico episódio do BIZARRO resgate do FLUMINENSE da queda à série B, que acabou por prejudicar a Lusa - este que foi um dos mais pesados golpes da história do clube - há também a questão da péssima administração do clube, financeira e juridicamente falando e sobretudo do sucateamento das categorias de base, estas que podiam ser o respiro e luz no fim do túnel para a Associação Portuguesa de, que há quase duas décadas não é mais nem sombra do que foi em seu passado glorioso (que entre outras coisas coleciona avassaladoras excursões internacionais).
Os amantes do futebol aguardam pelo retorno da Portuguesa ao seu lugar entre os grandes do Brasil.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Ah, o Zagueiro...

Caros ébrios,

Existe uma posição no campo de futebol que é extremamente vibrada. Talvez, pela empatia dos aficionados de futebol, por achar que esta posição, teoricamente, não precisa de técnica, mas força, vontade, raça, garra, e amor à camisa. Essa posição é o zagueiro.

Nós, torcedores fanáticos, temos um verdadeiro carinho em relação aos nossos bons beques. Vou relatar apenas dois casos.

Tenho um grande amigo chamado Teófilo. Um palmeirense tão chato quanto qualquer outro torcedor de times adversários. Mas o seu maior ídolo no futebol é o zagueiro Tonhão.

Para os que não se lembram deste zagueiro, ele não era o mais técnico, não era aquele zagueiro que tinha uma excelente saída de bola, mas era um zagueiro sério, que não tinha tempo ruim. Se precisasse chegar mais duro chegava, e era bastante preciso no jogo aéreo. em suma, um excelente zagueiro.

Mas para o Teófilo, Tonhão era Backenbauer. Era seu ídolo. E um belo dia, ele teve a oportunidade de encontrá-lo. Emocionado, se lembra de uma final de campeonato contra o Corinthians. Nesta final, o goleiro alvi-negro se desentende com o "paciente" Edmundo. O juiz, resolve expulsar quem? O Tonhão. Sim, o ídolo de um menino ruivo de Barueri.

Indignado, Teo vai se lembrar do ocorrido para o ex defensor. Em prantos, combinaram de caçar o Ronaldo por "forjar uma agressão", e enfim agredir o ex arqueiro. Tonhão deu risada e apoiou a vendetta de seu fã!

O outro caso, pode não ser tão emocionante como a história anterior, mas é emocionante para que vos conta essa história.

Meu maior ídolo no futebol, como os mais chegados sabem, é Don Diego Lugano. Ele não está nem próximo de ser o maior zagueiro da história do São Paulo, nem o maior zagueiro da história do Uruguai. Mas o cara é raçudo. Sempre foi. E foi o cara que marcou a minha adolescência quando comecei a acompanhar mais sério o futebol.

Bom, desde sua saída após a final da libertadores de 2006, sempre falei: quando ele voltar, eu vou buscá-lo no aeroporto! Depois de uma pressão muito grande minha, e de alguns muitos torcedores, o São Paulo repatria o zagueiro uruguaio. Fui cumprir a minha palavra. Eu, e mais 1100 pessoas.

Claro, nós esse bando de desocupados, e fanáticos pela representatividade desse jogador, mesmo sabendo que ele não jogaria o mesmo que 10 anos atrás, fizemos questão de recebê-lo nos braços. Literalmente. Foi a cena mais emocionante que vi na minha vida, em relação à futebol.

Mas o que essas histórias têm a ver? No último parágrafo, disse sobre a representatividade de Lugano. Para o Teo, a representatividade do Tonhão. Para alguns corintianos, Betão é um dos mais queridos do parque São Jorge (odiado por nós tricolores. Talvez por isso o amor deles ao ex zagueiro).

Um outro exemplo de representatividade é o zagueiro David Braz. Não é de longe um bom zagueiro. É daqueles medianos para baixo. Mas ele vibra tanto, comemora tanto, corre, luta, briga, se esforça, que os torcedores dos times nos quais ele passou possuem boas recordações.

Mas isso tudo porquê? Por quê gostar dos "patinhos feios" do futebol? Eu tenho uma teoria.

O zagueiro, na verdade, é a posição mais difícil de se atuar em campo. Até porquê, ele tem que prever a ação do atacante adversário. É quase um lance exotérico. O zagueiro tem a missão ingrata de parar o cara que mais tem habilidade do adversário, sem fazer falta, jogar a bola no mato, tirar a bola de perto do gol, impedir com que a bola chegue ao gol adversário, iniciar toda a jogada de ataque, e se der, fazer gol quando sobe pra atacar.

Só o fato de você trabalhar com a previsão de determinados assuntos é difícil pra burro! Ou seja, o zagueiro é uma posição mais que ingrata.

Mas é a posição que mais nos identificamos. Pois geralmente, esses zagueiros são caras muito sérios. E de tanta seriedade, às vezes ele acaba se atrapalhando. Ele, é o cara que tem o poder de nos vingar, quando temos vontade de dar uns bons catiripapos no atacante baixinho do time adversário que insiste em fazer gol em nós! E tudo isso, geralmente com uma simplicidade e humildade que nos cativa.

Vai ser o zagueiro, aquele cara que geralmente impede o gol, e que quando faz o gol, comemora igual a nós nas arquibancadas, pulando, berrando, socando o ar, mandando todo mundo pra pqp, e que todos no time, ficam muito felizes ao ver esse cara fazer o gol, justamente por ele nunca fazer gol!

É justamente o beque, que vai impedir na força física, que aparentemente é movida pelos berros das arquibancadas, que vai conseguir tirar impedir o ataque.

E quando ele joga a bola no mato? Ah, não existe um na arquibancada que não grite: "AEEE"!

Ou seja, o zagueiro é o cara que mais representa o torcedor em campo. Justamente por toda a sua vibração que ele passa em campo. Talvez, seja este o cara que mais se sinta inflamado pela torcida. Diferente daquele segundo atacante de cabelinho ajeitado, com chuteiras coloridas.

E quando esse cara consegue fazer tudo isso que lhes foi apresentado, ah meus amigos, esse cara é endeusado. Mais endeusado que o atacante do seu time. E mesmo que não seja, ele sempre terá um espaço no Olímpo do coração dos mais românticos pelo futebol.

sábado, 16 de julho de 2016

A evolução do Futebol - Do impedimento à compactação




Para que a discussão seja realmente produtiva é importante que, antes de mais nada, deixemos claro aqui que: a palavra evolução não necessariamente significa MELHORIA, mas tão somente a continuidade e transformação da existência de algo através do tempo.
Tendo isso claro, vamos ao que interessa.
Muito se comenta e muito se ouve atualmente, em meio a jargões batidos e neologismos exasperados, a expressão "futebol moderno". Mas a que se referem os cronistas, técnicos e dirigentes quando citam a expressão?
Bom, deixando de lado a modernização dos estádios a super exploração do marketing e a gestão dos clubes em moldes empresariais (com todas as implicações que isso tem) o caso aqui é que o "futebol moderno" é um fenômeno que se dá dentro das quatro linhas, no campo.
No passado, nas primeiras décadas do futebol, o que se pode considerar como a "primeira era" do esporte, antes mesmo do surgimento das regras atuais (Grande maioria dessas regras viria do chamado "Código de Sheffield) o futebol era altamente desorganizado em termos táticos, é claro, em comparação com o futebol que conhecemos hoje.
O jogo se dava numa confusão de jogadores próximos à bola, à exceção do Goal Keeper - como eram chamados os arqueiros da época. Os praticantes buscavam levar a bola à meta de forma pouquíssimo organizada o que, em geral, dava vantagem aos mais fortes e mais velozes.
Por motivos óbvios os mais fortes fisicamente podiam passar pelos adversários conduzindo a bola e os mais velozes e habilidosos tinham mais facilidade de escapar dos marcadores, que por sua vez buscavam roubar a bola de forma, também, pouco ordenada.
Em 1863 surgiu, com intento de proporcionar mais organização ao jogo, a primeira versão da regra do impedimento. Esta que exigia ao menos 4 jogadores à frente do atacante. Em 1866 a regra foi alterada diminuindo o número de jogadores que precisariam estar à frente do atacante, de 4 para 3. Em 1907 outra alteração deu conta de que o impedimento apenas poderia ser marcado além da linha do meio campo (campo de ataque) e finalmente em 1925 foi instituído que o número de jogadores que precisavam estar à frente do atacante para validar a jogada seria de 2 e não mais de três.
Essa nova regra visava, além de organizar um pouco mais a partida, dar mais dinamismo e velocidade aos jogos.
A criação e aperfeiçoamento dessa regra extinguiu os esquemas esdrúxulos do século XIX como: 1-1-8, 1-2-7,  2-2-6 e etc. Todos voltados apenas para o ataque e como se pode perceber, com um alto número de atacantes que se acotovelavam na área adversária.
Durante a maior parte da existência do futebol os treinadores viam o jogo como uma prática que obrigatoriamente deveria ser voltada para o ataque e sendo assim os esquemas do início do século XX ainda mantinha resquícios, embora minimizados, do excesso de atacantes e uma fluência bastante diferente de jogo.
Considera-se o 4-2-4 o primeiro sistema tático de fato. Embora este por várias razões ainda pecasse no cuidado com o setor defensivo.
O 4-4-2 criado na Inglaterra e o 3-5-2 criado na Itália são aos os esquemas que deram origem às variações usadas hoje.
A diferença básica entre os esquemas táticos pós década de 30 é que se pode perceber uma maior preocupação com o povoamento do campo e distribuição ordenada dos jogadores. Isso faz com que cada jogador atue numa determinada faixa de campo, executando funções mais específicas e evitando qualquer tipo de aglomeração que atrapalhe a fluência do jogo.
No entanto essa maior organização, durante longo tempo, não impediu que a ofensividade continuasse a ser explorada.
Embora agora houvesse a cautela defensiva e a setorização, os atacantes, por sua vez podiam criar e disso surgiu, em grande medida, a necessidade de se explorar a habilidade e a perícia no passe para que se pudesse romper e trespassar as linhas defensivas adversárias.
A evolução tática levou ao desenvolvimento do conceito de jogo coletivo, mas também ao desenvolvimento das individualidades e da fluência do jogo por meio delas. Como um maestro que coordena uma orquestra.
Junto com a última significativa mudança na regra do impedimento, em 1991, que a tornou como a conhecemos veio crescimento daquilo que os "especialistas" chamariam de "futebol moderno".
Além da aproximação das linhas de defesa, meio-campo e ataque, a partir de meados da década de 1990, também surgiram as ideias do fortalecimento acelerado e precoce dos jogadores e a lógica do jogador multifuncional (ambas já citadas aqui no blog) conceitos que, como já dito, acabam por limitar a habilidade do jogador.
O fortalecimento muscular precoce e a velocidade exacerbada acabam por fazer rarear a figura do "camisa 10" clássico e gerar atacantes de lado de campo que correm muito, mas pecam no drible e em fundamentos como o cruzamento.
A idéia do "multifuncional" que assim como o fortalecimento muscular deveria ser aplicada no final da adolescência é feita muito cedo. Isso faz com que o atleta não se firme de forma qualitativa numa função, para depois adicionar possibilidades ao leque. Assim acabamos por formar jogadores incompletos, que atuam em várias funções, mas não atingem a excelência em nenhuma.
Aquilo que no século XIX e início do XX era uma preocupação desmedida com o ataque se converteu (muito em função do caráter de NEGÓCIO que se tornou o futbol) numa preocupação exacerbada com a defesa (já que derrotas se tornam prejuízo financeiro para os artífices da mercantilização do futebol).
O jogo teve seus objetivos originais aparentemente alterados. A plástica e a originalidade se foram. A política e o mercado prevaleceram. Mas política é um assunto para o próximo capítulo