sábado, 16 de julho de 2016

A evolução do Futebol - Do impedimento à compactação




Para que a discussão seja realmente produtiva é importante que, antes de mais nada, deixemos claro aqui que: a palavra evolução não necessariamente significa MELHORIA, mas tão somente a continuidade e transformação da existência de algo através do tempo.
Tendo isso claro, vamos ao que interessa.
Muito se comenta e muito se ouve atualmente, em meio a jargões batidos e neologismos exasperados, a expressão "futebol moderno". Mas a que se referem os cronistas, técnicos e dirigentes quando citam a expressão?
Bom, deixando de lado a modernização dos estádios a super exploração do marketing e a gestão dos clubes em moldes empresariais (com todas as implicações que isso tem) o caso aqui é que o "futebol moderno" é um fenômeno que se dá dentro das quatro linhas, no campo.
No passado, nas primeiras décadas do futebol, o que se pode considerar como a "primeira era" do esporte, antes mesmo do surgimento das regras atuais (Grande maioria dessas regras viria do chamado "Código de Sheffield) o futebol era altamente desorganizado em termos táticos, é claro, em comparação com o futebol que conhecemos hoje.
O jogo se dava numa confusão de jogadores próximos à bola, à exceção do Goal Keeper - como eram chamados os arqueiros da época. Os praticantes buscavam levar a bola à meta de forma pouquíssimo organizada o que, em geral, dava vantagem aos mais fortes e mais velozes.
Por motivos óbvios os mais fortes fisicamente podiam passar pelos adversários conduzindo a bola e os mais velozes e habilidosos tinham mais facilidade de escapar dos marcadores, que por sua vez buscavam roubar a bola de forma, também, pouco ordenada.
Em 1863 surgiu, com intento de proporcionar mais organização ao jogo, a primeira versão da regra do impedimento. Esta que exigia ao menos 4 jogadores à frente do atacante. Em 1866 a regra foi alterada diminuindo o número de jogadores que precisariam estar à frente do atacante, de 4 para 3. Em 1907 outra alteração deu conta de que o impedimento apenas poderia ser marcado além da linha do meio campo (campo de ataque) e finalmente em 1925 foi instituído que o número de jogadores que precisavam estar à frente do atacante para validar a jogada seria de 2 e não mais de três.
Essa nova regra visava, além de organizar um pouco mais a partida, dar mais dinamismo e velocidade aos jogos.
A criação e aperfeiçoamento dessa regra extinguiu os esquemas esdrúxulos do século XIX como: 1-1-8, 1-2-7,  2-2-6 e etc. Todos voltados apenas para o ataque e como se pode perceber, com um alto número de atacantes que se acotovelavam na área adversária.
Durante a maior parte da existência do futebol os treinadores viam o jogo como uma prática que obrigatoriamente deveria ser voltada para o ataque e sendo assim os esquemas do início do século XX ainda mantinha resquícios, embora minimizados, do excesso de atacantes e uma fluência bastante diferente de jogo.
Considera-se o 4-2-4 o primeiro sistema tático de fato. Embora este por várias razões ainda pecasse no cuidado com o setor defensivo.
O 4-4-2 criado na Inglaterra e o 3-5-2 criado na Itália são aos os esquemas que deram origem às variações usadas hoje.
A diferença básica entre os esquemas táticos pós década de 30 é que se pode perceber uma maior preocupação com o povoamento do campo e distribuição ordenada dos jogadores. Isso faz com que cada jogador atue numa determinada faixa de campo, executando funções mais específicas e evitando qualquer tipo de aglomeração que atrapalhe a fluência do jogo.
No entanto essa maior organização, durante longo tempo, não impediu que a ofensividade continuasse a ser explorada.
Embora agora houvesse a cautela defensiva e a setorização, os atacantes, por sua vez podiam criar e disso surgiu, em grande medida, a necessidade de se explorar a habilidade e a perícia no passe para que se pudesse romper e trespassar as linhas defensivas adversárias.
A evolução tática levou ao desenvolvimento do conceito de jogo coletivo, mas também ao desenvolvimento das individualidades e da fluência do jogo por meio delas. Como um maestro que coordena uma orquestra.
Junto com a última significativa mudança na regra do impedimento, em 1991, que a tornou como a conhecemos veio crescimento daquilo que os "especialistas" chamariam de "futebol moderno".
Além da aproximação das linhas de defesa, meio-campo e ataque, a partir de meados da década de 1990, também surgiram as ideias do fortalecimento acelerado e precoce dos jogadores e a lógica do jogador multifuncional (ambas já citadas aqui no blog) conceitos que, como já dito, acabam por limitar a habilidade do jogador.
O fortalecimento muscular precoce e a velocidade exacerbada acabam por fazer rarear a figura do "camisa 10" clássico e gerar atacantes de lado de campo que correm muito, mas pecam no drible e em fundamentos como o cruzamento.
A idéia do "multifuncional" que assim como o fortalecimento muscular deveria ser aplicada no final da adolescência é feita muito cedo. Isso faz com que o atleta não se firme de forma qualitativa numa função, para depois adicionar possibilidades ao leque. Assim acabamos por formar jogadores incompletos, que atuam em várias funções, mas não atingem a excelência em nenhuma.
Aquilo que no século XIX e início do XX era uma preocupação desmedida com o ataque se converteu (muito em função do caráter de NEGÓCIO que se tornou o futbol) numa preocupação exacerbada com a defesa (já que derrotas se tornam prejuízo financeiro para os artífices da mercantilização do futebol).
O jogo teve seus objetivos originais aparentemente alterados. A plástica e a originalidade se foram. A política e o mercado prevaleceram. Mas política é um assunto para o próximo capítulo

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