sexta-feira, 8 de julho de 2016

Explicando os 7 x 1


Na última década o brasileiro(a) viu a rápida e continua derrocada da seleção brasileira e dos clubes de nosso futebol.
Num primeiro momento os clubes demonstraram este enfraquecimento, tendo sofríveis resultados em embates contra times europeus. A exceção dos vitoriosos São Paulo (2005), Internacional (2006) e Corinthians (2012) os últimos lampejos do poderio de nosso futebol, os outros resultados foram sofríveis.
 As massacrantes derrotas do Santos (Este que já teve o maior time de futebol que o mundo já viu - esquadrão cujo ataque era formado pelos incríveis Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e o "Canhão da Vila, Pepe) frente ao Barcelona, primeiro por 4 x 0 e depois por 8 x 0. Derrotas que mancharam para sempre a história de uma das mais representativas camisas do futebol mundial.
Estes dois jogos são emblemáticos por mostrarem o primeiro dos fatores determinantes para o enfraquecimento do futebol nacional. Foi notório nas duas partidas a postura inferiorizada dos atletas santistas, como se a partida fosse contra seres superiores vindos de um mundo diferente, inatingíveis.
Será que aqueles jogadores fazem alguma idéia de que por décadas aquela camisa foi respeitada nos quatro cantos do mundo e já derrotou praticamente todas as grandes equipes da Europa?
O Santos, antes de mais nada começou perdendo a partida na esfera psicológica. Afinal somos bombardeados por propaganda acerca das equipes européias.
Os vídeo games, comerciais de produtos e etc. bombardeiam nossas crianças e mesmo os adultos. O "show" que permeia o jogo de futebol em si e o caráter de CELEBRIDADES e ídolos da cultura pop que a Europa oferece deslumbra os jovens. Tanto expectadores quanto jogadores das categorias de base, que muitas vezes não conhecem absolutamente nada do passado glorioso das equipes em que eles próprios jogam e pelas quais seus pais e mães torcem. Muitos já foram os relatos de grandes ídolos do passado que passaram pelos corredores dos clubes e não foram reconhecidos pelos pleiteantes ao time principal.
Mas o sucesso do bombardeamento tem a ver, e é possibilitado por uma série de fatores.
Primeiro os dirigentes e autoridades das esferas públicas e futebolísticas parecem trabalhar com sofreguidão para sucatear o espetáculo. Primeiro empobrecendo a festa nas arquibancadas: Proibindo bandeiras, sinalizadores e quaisquer outros aparatos. Sempre com a desculpa da segurança, segurança essa que deveria ser proporcionada por essas mesmas autoridades, que ao invés de trabalhar na raiz cancerosa da parcela violenta e criminosa das torcidas prefere anistiar continuamente os crimes cometidos nas praças esportivas como se os estádios integrassem um mundo separado do mundo real. A isso se assomam os horários esdrúxulos e os plenos poderes dados a emissora detentora dos direitos de transmissão, esta que faz o diabo com os horários e a rotina e exposição dos clubes, preferindo CLARAMENTE alguns clubes em detrimento de outros e buscando uma polarização como ocorre, por exemplo, na Espanha.
A falta de organização estrutural, financeira, estética e de tabelas - essas que são planejadas de forma burra, para dizer o mínimo.
Aspectos estes, que são os primeiros níveis daquilo que afasta o torcedor dos estádios.
Outro aspecto que coaduna e completa as questões já citadas é o evidente e proposital loteamento das categorias de base. Efeito que foi possibilitado por uma lei mal escrita e mal estruturada, para dizer o mínimo, que desguarnece os clubes e os deixa de mãos atadas ante a atuação de empresários que começam a aliciar jogadores e famílias já nos estágios iniciais da formação dos atletas.
As promessas espetaculares daqueles que lucram com a desintegração do futebol brasileiro trabalham lado a lado com o bombardeio midiático dos clubes europeus sobre o imaginário do brasileiro.
O êxodo precoce de nossos maiores talentos nos obriga a montar equipes com o pé de obra que "sobra", este que quando evolui e se torna mais capaz tecnicamente ainda é, mais tarde, aliciado pelo futebol de centros secundários como o leste europeu, Oriente Média e Ásia.
Este êxodo é uma das bases da crescente falta de identificação do público com a seleção já que o nosso escrete é formado em sua maioria por jogadores que muitas vezes sequer passaram por equipes profissionais do futebol brasileiro.
Além de todas as questões geradas pelo supracitado loteamento, temos que conviver com um trabalho mal executado na formação dos atletas. O fortalecimento muscular exacerbado e precoce que faz com que os jovens percam habilidade e agilidade e a cultural do jogador multi função, que é altamente prejudicial se implementada muito cedo já que o jogador acaba por não descobrir qual é a posição em que desempenha seu melhor futebol.
As categorias de base, a exceção do Santos, são apinhadas de empresários e pouco do trabalho é conduzido por ex jogadores, mas sim por profissionais de competência duvidosa.
A cabeça do jogador de base está desde cedo voltada para o exterior o que tem, ano a ano, feito com que os clubes brasileiros se tornem caminhos e não o objetivo final. Isso influencia amplamente na força dos clubes.
Também afetam o processo aspectos pouco notados da vida cotidiana como o processo de extinção dos campos e campinhos de várzea devido a especulação imobiliária entre outros fatores, que está eliminando os locais onde os jovens podiam desenvolver a ta "irreverência" a habilidade e liberdade de desenvolver seu jogo. Nosso futebol está sendo alimentado de "meninos de prédio" que buscam os milhões e a badalação em detrimento da glória nos campos e da busca de objetivos pessoais dentro de esporte, recordes e títulos ou a idolatria da torcida.
Enquanto os jovens atletas estiverem mais preparados para tirar selfies em baladas do que dar mais 10% em campo teremos sérios problemas na formação de atletas e de grandes equipes como um dia já tivemos.

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