quinta-feira, 21 de julho de 2016

O Quinto Grande



"Vamos à luta, ó campeões,
hão de vibrar os nossos corações
Na tua glória, toda certeza,
que tu és grande, ó Portuguesa!
Vamos à luta, ó Campeões,
há de brilhar a cruz dos teus brasões
E tua bandeira verde-encarnada,
que é a luz da tua jornada!
Vitória é a certeza
da tua força e tradição
Em campo, a Portuguesa,
pra nós, és sempre um time campeão"





Às vezes eu me pergunto para que serve a memória. Sim, a memória. O emprego da memória no mundo esportivo, que devia ser enraizada, não existe nos dias de hoje.
O objetivo das disputas futebolísticas é, além da vitória por si só e além dos títulos, encantar. E esse encantamento, de um drible, um lance, uma jogada que contraria a lógica - é disso que se faz o futebol - e mesmo quando se fala de "título" a própria palavra já nos remete à memória... Algo que veio e se foi, embora o momento e a forma como aconteceu fiquem gravados nas mentes de quem presenciou ou nos títulos, nos gols, nas vitórias, nas páginas amareladas de jornais, nas vozes dos cronistas.
Vamos falar aqui daquele que é sim (embora degradado e maltratado por sucessivas más administrações e mesmo pela arbitrariedade dos tribunais) O quinto grande do futebol de São Paulo: A Associação Portuguesa de Desportos.
Em 14 de Agosto de 1920 foi fundado o clube, que surgiu da união de outras sociedades lusitanas e apenas quinze anos depois de sua fundação conquista por duas vezes seguidas o já tradicional Campeonato Paulista. Isso após sua união com o Mackenzie para a disputa dos campeonatos na década de 20.
Neste período a Lusa ainda mandava seus jogos no antigo estádio da Rua Cesário Ramalho no Cambuci. Tendo à época algo que poucos clubes no Brasil possuíam: Um jogador campeão do, Filó (campeão do mundo de 1934 pela seleção italiana), que ingressou na equipe rubro-verde na década de 30.
Desde os anos 40, já uma grande reveladora de jogadores, a Portuguesa montou uma fantástica equipe que daria frutos nos anos 50 e que, antes do grande Santos de Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe e do Botafogo de Garrincha, Zagallo, Didi e Nilton Santos, foi o grande time do futebol brasileiro.
Campeã do torneio Rio-São Paulo nas edições de 1952 e 1955 (quando este era o mais importante torneio do país) a Lusa foi uma das mais poderosas equipes do país na década.
Outro grande momento da Portuguesa foi na década de 70 quando foi novamente campeã paulista, além de inaugurar sua casa definitiva: o estádio Oswaldo Teixeira Duarte ou popularmente, Canindé.
Mas o que teria levado um clube que, em vários períodos da história do futebol nacional, foi protagonista no cenário dos grandes clubes, a uma derrocada tão vertiginosa?
Até meados dos anos 90 a Portuguesa chegava a fases agudas de campeonatos que disputava, sendo finalista do campeonato brasileiro de 1996 além de frequentemente vencer São Paulo, Corinthians, Palmeiras e Santos, além de outras potências do futebol nacional.
Talvez um dos motivos da queda de produtividade e do esquecimento da grande Portuguesa, que já teve em seus plantéis jogadores como Julinho Botelho, Enéas, Roberto Dinamite, Basílio, Zé Roberto, Dida, Dener entre dezenas de outros, seja além das pavorosas administrações do final dos anos 90 e ao longo dos anos 2000, seja o nome.
Muitos crêem que o nome, ligado intimamente à colônia lusitana, tenha sido um dos freios da manutenção da Portuguesa na elite do futebol brasileiro. Ao que se imagina a fortíssima conexão com as origens portuguesas teria limitado o crescimento da torcida, por exemplo, a descendentes de portugueses.
Ao contrário do que houve com Cruzeiro e Palmeiras, ambos chamados de Palestra Itália antes da Segunda Grande Guerra (período em que se iniciou perseguição às colônias alemã e italiana), mas que após a mudança de nome angariaram muitos outros torcedores além das colônias italianas.
Além do fatídico episódio do BIZARRO resgate do FLUMINENSE da queda à série B, que acabou por prejudicar a Lusa - este que foi um dos mais pesados golpes da história do clube - há também a questão da péssima administração do clube, financeira e juridicamente falando e sobretudo do sucateamento das categorias de base, estas que podiam ser o respiro e luz no fim do túnel para a Associação Portuguesa de, que há quase duas décadas não é mais nem sombra do que foi em seu passado glorioso (que entre outras coisas coleciona avassaladoras excursões internacionais).
Os amantes do futebol aguardam pelo retorno da Portuguesa ao seu lugar entre os grandes do Brasil.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Ah, o Zagueiro...

Caros ébrios,

Existe uma posição no campo de futebol que é extremamente vibrada. Talvez, pela empatia dos aficionados de futebol, por achar que esta posição, teoricamente, não precisa de técnica, mas força, vontade, raça, garra, e amor à camisa. Essa posição é o zagueiro.

Nós, torcedores fanáticos, temos um verdadeiro carinho em relação aos nossos bons beques. Vou relatar apenas dois casos.

Tenho um grande amigo chamado Teófilo. Um palmeirense tão chato quanto qualquer outro torcedor de times adversários. Mas o seu maior ídolo no futebol é o zagueiro Tonhão.

Para os que não se lembram deste zagueiro, ele não era o mais técnico, não era aquele zagueiro que tinha uma excelente saída de bola, mas era um zagueiro sério, que não tinha tempo ruim. Se precisasse chegar mais duro chegava, e era bastante preciso no jogo aéreo. em suma, um excelente zagueiro.

Mas para o Teófilo, Tonhão era Backenbauer. Era seu ídolo. E um belo dia, ele teve a oportunidade de encontrá-lo. Emocionado, se lembra de uma final de campeonato contra o Corinthians. Nesta final, o goleiro alvi-negro se desentende com o "paciente" Edmundo. O juiz, resolve expulsar quem? O Tonhão. Sim, o ídolo de um menino ruivo de Barueri.

Indignado, Teo vai se lembrar do ocorrido para o ex defensor. Em prantos, combinaram de caçar o Ronaldo por "forjar uma agressão", e enfim agredir o ex arqueiro. Tonhão deu risada e apoiou a vendetta de seu fã!

O outro caso, pode não ser tão emocionante como a história anterior, mas é emocionante para que vos conta essa história.

Meu maior ídolo no futebol, como os mais chegados sabem, é Don Diego Lugano. Ele não está nem próximo de ser o maior zagueiro da história do São Paulo, nem o maior zagueiro da história do Uruguai. Mas o cara é raçudo. Sempre foi. E foi o cara que marcou a minha adolescência quando comecei a acompanhar mais sério o futebol.

Bom, desde sua saída após a final da libertadores de 2006, sempre falei: quando ele voltar, eu vou buscá-lo no aeroporto! Depois de uma pressão muito grande minha, e de alguns muitos torcedores, o São Paulo repatria o zagueiro uruguaio. Fui cumprir a minha palavra. Eu, e mais 1100 pessoas.

Claro, nós esse bando de desocupados, e fanáticos pela representatividade desse jogador, mesmo sabendo que ele não jogaria o mesmo que 10 anos atrás, fizemos questão de recebê-lo nos braços. Literalmente. Foi a cena mais emocionante que vi na minha vida, em relação à futebol.

Mas o que essas histórias têm a ver? No último parágrafo, disse sobre a representatividade de Lugano. Para o Teo, a representatividade do Tonhão. Para alguns corintianos, Betão é um dos mais queridos do parque São Jorge (odiado por nós tricolores. Talvez por isso o amor deles ao ex zagueiro).

Um outro exemplo de representatividade é o zagueiro David Braz. Não é de longe um bom zagueiro. É daqueles medianos para baixo. Mas ele vibra tanto, comemora tanto, corre, luta, briga, se esforça, que os torcedores dos times nos quais ele passou possuem boas recordações.

Mas isso tudo porquê? Por quê gostar dos "patinhos feios" do futebol? Eu tenho uma teoria.

O zagueiro, na verdade, é a posição mais difícil de se atuar em campo. Até porquê, ele tem que prever a ação do atacante adversário. É quase um lance exotérico. O zagueiro tem a missão ingrata de parar o cara que mais tem habilidade do adversário, sem fazer falta, jogar a bola no mato, tirar a bola de perto do gol, impedir com que a bola chegue ao gol adversário, iniciar toda a jogada de ataque, e se der, fazer gol quando sobe pra atacar.

Só o fato de você trabalhar com a previsão de determinados assuntos é difícil pra burro! Ou seja, o zagueiro é uma posição mais que ingrata.

Mas é a posição que mais nos identificamos. Pois geralmente, esses zagueiros são caras muito sérios. E de tanta seriedade, às vezes ele acaba se atrapalhando. Ele, é o cara que tem o poder de nos vingar, quando temos vontade de dar uns bons catiripapos no atacante baixinho do time adversário que insiste em fazer gol em nós! E tudo isso, geralmente com uma simplicidade e humildade que nos cativa.

Vai ser o zagueiro, aquele cara que geralmente impede o gol, e que quando faz o gol, comemora igual a nós nas arquibancadas, pulando, berrando, socando o ar, mandando todo mundo pra pqp, e que todos no time, ficam muito felizes ao ver esse cara fazer o gol, justamente por ele nunca fazer gol!

É justamente o beque, que vai impedir na força física, que aparentemente é movida pelos berros das arquibancadas, que vai conseguir tirar impedir o ataque.

E quando ele joga a bola no mato? Ah, não existe um na arquibancada que não grite: "AEEE"!

Ou seja, o zagueiro é o cara que mais representa o torcedor em campo. Justamente por toda a sua vibração que ele passa em campo. Talvez, seja este o cara que mais se sinta inflamado pela torcida. Diferente daquele segundo atacante de cabelinho ajeitado, com chuteiras coloridas.

E quando esse cara consegue fazer tudo isso que lhes foi apresentado, ah meus amigos, esse cara é endeusado. Mais endeusado que o atacante do seu time. E mesmo que não seja, ele sempre terá um espaço no Olímpo do coração dos mais românticos pelo futebol.

sábado, 16 de julho de 2016

A evolução do Futebol - Do impedimento à compactação




Para que a discussão seja realmente produtiva é importante que, antes de mais nada, deixemos claro aqui que: a palavra evolução não necessariamente significa MELHORIA, mas tão somente a continuidade e transformação da existência de algo através do tempo.
Tendo isso claro, vamos ao que interessa.
Muito se comenta e muito se ouve atualmente, em meio a jargões batidos e neologismos exasperados, a expressão "futebol moderno". Mas a que se referem os cronistas, técnicos e dirigentes quando citam a expressão?
Bom, deixando de lado a modernização dos estádios a super exploração do marketing e a gestão dos clubes em moldes empresariais (com todas as implicações que isso tem) o caso aqui é que o "futebol moderno" é um fenômeno que se dá dentro das quatro linhas, no campo.
No passado, nas primeiras décadas do futebol, o que se pode considerar como a "primeira era" do esporte, antes mesmo do surgimento das regras atuais (Grande maioria dessas regras viria do chamado "Código de Sheffield) o futebol era altamente desorganizado em termos táticos, é claro, em comparação com o futebol que conhecemos hoje.
O jogo se dava numa confusão de jogadores próximos à bola, à exceção do Goal Keeper - como eram chamados os arqueiros da época. Os praticantes buscavam levar a bola à meta de forma pouquíssimo organizada o que, em geral, dava vantagem aos mais fortes e mais velozes.
Por motivos óbvios os mais fortes fisicamente podiam passar pelos adversários conduzindo a bola e os mais velozes e habilidosos tinham mais facilidade de escapar dos marcadores, que por sua vez buscavam roubar a bola de forma, também, pouco ordenada.
Em 1863 surgiu, com intento de proporcionar mais organização ao jogo, a primeira versão da regra do impedimento. Esta que exigia ao menos 4 jogadores à frente do atacante. Em 1866 a regra foi alterada diminuindo o número de jogadores que precisariam estar à frente do atacante, de 4 para 3. Em 1907 outra alteração deu conta de que o impedimento apenas poderia ser marcado além da linha do meio campo (campo de ataque) e finalmente em 1925 foi instituído que o número de jogadores que precisavam estar à frente do atacante para validar a jogada seria de 2 e não mais de três.
Essa nova regra visava, além de organizar um pouco mais a partida, dar mais dinamismo e velocidade aos jogos.
A criação e aperfeiçoamento dessa regra extinguiu os esquemas esdrúxulos do século XIX como: 1-1-8, 1-2-7,  2-2-6 e etc. Todos voltados apenas para o ataque e como se pode perceber, com um alto número de atacantes que se acotovelavam na área adversária.
Durante a maior parte da existência do futebol os treinadores viam o jogo como uma prática que obrigatoriamente deveria ser voltada para o ataque e sendo assim os esquemas do início do século XX ainda mantinha resquícios, embora minimizados, do excesso de atacantes e uma fluência bastante diferente de jogo.
Considera-se o 4-2-4 o primeiro sistema tático de fato. Embora este por várias razões ainda pecasse no cuidado com o setor defensivo.
O 4-4-2 criado na Inglaterra e o 3-5-2 criado na Itália são aos os esquemas que deram origem às variações usadas hoje.
A diferença básica entre os esquemas táticos pós década de 30 é que se pode perceber uma maior preocupação com o povoamento do campo e distribuição ordenada dos jogadores. Isso faz com que cada jogador atue numa determinada faixa de campo, executando funções mais específicas e evitando qualquer tipo de aglomeração que atrapalhe a fluência do jogo.
No entanto essa maior organização, durante longo tempo, não impediu que a ofensividade continuasse a ser explorada.
Embora agora houvesse a cautela defensiva e a setorização, os atacantes, por sua vez podiam criar e disso surgiu, em grande medida, a necessidade de se explorar a habilidade e a perícia no passe para que se pudesse romper e trespassar as linhas defensivas adversárias.
A evolução tática levou ao desenvolvimento do conceito de jogo coletivo, mas também ao desenvolvimento das individualidades e da fluência do jogo por meio delas. Como um maestro que coordena uma orquestra.
Junto com a última significativa mudança na regra do impedimento, em 1991, que a tornou como a conhecemos veio crescimento daquilo que os "especialistas" chamariam de "futebol moderno".
Além da aproximação das linhas de defesa, meio-campo e ataque, a partir de meados da década de 1990, também surgiram as ideias do fortalecimento acelerado e precoce dos jogadores e a lógica do jogador multifuncional (ambas já citadas aqui no blog) conceitos que, como já dito, acabam por limitar a habilidade do jogador.
O fortalecimento muscular precoce e a velocidade exacerbada acabam por fazer rarear a figura do "camisa 10" clássico e gerar atacantes de lado de campo que correm muito, mas pecam no drible e em fundamentos como o cruzamento.
A idéia do "multifuncional" que assim como o fortalecimento muscular deveria ser aplicada no final da adolescência é feita muito cedo. Isso faz com que o atleta não se firme de forma qualitativa numa função, para depois adicionar possibilidades ao leque. Assim acabamos por formar jogadores incompletos, que atuam em várias funções, mas não atingem a excelência em nenhuma.
Aquilo que no século XIX e início do XX era uma preocupação desmedida com o ataque se converteu (muito em função do caráter de NEGÓCIO que se tornou o futbol) numa preocupação exacerbada com a defesa (já que derrotas se tornam prejuízo financeiro para os artífices da mercantilização do futebol).
O jogo teve seus objetivos originais aparentemente alterados. A plástica e a originalidade se foram. A política e o mercado prevaleceram. Mas política é um assunto para o próximo capítulo

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Explicando os 7 x 1


Na última década o brasileiro(a) viu a rápida e continua derrocada da seleção brasileira e dos clubes de nosso futebol.
Num primeiro momento os clubes demonstraram este enfraquecimento, tendo sofríveis resultados em embates contra times europeus. A exceção dos vitoriosos São Paulo (2005), Internacional (2006) e Corinthians (2012) os últimos lampejos do poderio de nosso futebol, os outros resultados foram sofríveis.
 As massacrantes derrotas do Santos (Este que já teve o maior time de futebol que o mundo já viu - esquadrão cujo ataque era formado pelos incríveis Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e o "Canhão da Vila, Pepe) frente ao Barcelona, primeiro por 4 x 0 e depois por 8 x 0. Derrotas que mancharam para sempre a história de uma das mais representativas camisas do futebol mundial.
Estes dois jogos são emblemáticos por mostrarem o primeiro dos fatores determinantes para o enfraquecimento do futebol nacional. Foi notório nas duas partidas a postura inferiorizada dos atletas santistas, como se a partida fosse contra seres superiores vindos de um mundo diferente, inatingíveis.
Será que aqueles jogadores fazem alguma idéia de que por décadas aquela camisa foi respeitada nos quatro cantos do mundo e já derrotou praticamente todas as grandes equipes da Europa?
O Santos, antes de mais nada começou perdendo a partida na esfera psicológica. Afinal somos bombardeados por propaganda acerca das equipes européias.
Os vídeo games, comerciais de produtos e etc. bombardeiam nossas crianças e mesmo os adultos. O "show" que permeia o jogo de futebol em si e o caráter de CELEBRIDADES e ídolos da cultura pop que a Europa oferece deslumbra os jovens. Tanto expectadores quanto jogadores das categorias de base, que muitas vezes não conhecem absolutamente nada do passado glorioso das equipes em que eles próprios jogam e pelas quais seus pais e mães torcem. Muitos já foram os relatos de grandes ídolos do passado que passaram pelos corredores dos clubes e não foram reconhecidos pelos pleiteantes ao time principal.
Mas o sucesso do bombardeamento tem a ver, e é possibilitado por uma série de fatores.
Primeiro os dirigentes e autoridades das esferas públicas e futebolísticas parecem trabalhar com sofreguidão para sucatear o espetáculo. Primeiro empobrecendo a festa nas arquibancadas: Proibindo bandeiras, sinalizadores e quaisquer outros aparatos. Sempre com a desculpa da segurança, segurança essa que deveria ser proporcionada por essas mesmas autoridades, que ao invés de trabalhar na raiz cancerosa da parcela violenta e criminosa das torcidas prefere anistiar continuamente os crimes cometidos nas praças esportivas como se os estádios integrassem um mundo separado do mundo real. A isso se assomam os horários esdrúxulos e os plenos poderes dados a emissora detentora dos direitos de transmissão, esta que faz o diabo com os horários e a rotina e exposição dos clubes, preferindo CLARAMENTE alguns clubes em detrimento de outros e buscando uma polarização como ocorre, por exemplo, na Espanha.
A falta de organização estrutural, financeira, estética e de tabelas - essas que são planejadas de forma burra, para dizer o mínimo.
Aspectos estes, que são os primeiros níveis daquilo que afasta o torcedor dos estádios.
Outro aspecto que coaduna e completa as questões já citadas é o evidente e proposital loteamento das categorias de base. Efeito que foi possibilitado por uma lei mal escrita e mal estruturada, para dizer o mínimo, que desguarnece os clubes e os deixa de mãos atadas ante a atuação de empresários que começam a aliciar jogadores e famílias já nos estágios iniciais da formação dos atletas.
As promessas espetaculares daqueles que lucram com a desintegração do futebol brasileiro trabalham lado a lado com o bombardeio midiático dos clubes europeus sobre o imaginário do brasileiro.
O êxodo precoce de nossos maiores talentos nos obriga a montar equipes com o pé de obra que "sobra", este que quando evolui e se torna mais capaz tecnicamente ainda é, mais tarde, aliciado pelo futebol de centros secundários como o leste europeu, Oriente Média e Ásia.
Este êxodo é uma das bases da crescente falta de identificação do público com a seleção já que o nosso escrete é formado em sua maioria por jogadores que muitas vezes sequer passaram por equipes profissionais do futebol brasileiro.
Além de todas as questões geradas pelo supracitado loteamento, temos que conviver com um trabalho mal executado na formação dos atletas. O fortalecimento muscular exacerbado e precoce que faz com que os jovens percam habilidade e agilidade e a cultural do jogador multi função, que é altamente prejudicial se implementada muito cedo já que o jogador acaba por não descobrir qual é a posição em que desempenha seu melhor futebol.
As categorias de base, a exceção do Santos, são apinhadas de empresários e pouco do trabalho é conduzido por ex jogadores, mas sim por profissionais de competência duvidosa.
A cabeça do jogador de base está desde cedo voltada para o exterior o que tem, ano a ano, feito com que os clubes brasileiros se tornem caminhos e não o objetivo final. Isso influencia amplamente na força dos clubes.
Também afetam o processo aspectos pouco notados da vida cotidiana como o processo de extinção dos campos e campinhos de várzea devido a especulação imobiliária entre outros fatores, que está eliminando os locais onde os jovens podiam desenvolver a ta "irreverência" a habilidade e liberdade de desenvolver seu jogo. Nosso futebol está sendo alimentado de "meninos de prédio" que buscam os milhões e a badalação em detrimento da glória nos campos e da busca de objetivos pessoais dentro de esporte, recordes e títulos ou a idolatria da torcida.
Enquanto os jovens atletas estiverem mais preparados para tirar selfies em baladas do que dar mais 10% em campo teremos sérios problemas na formação de atletas e de grandes equipes como um dia já tivemos.