quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Pra que serve o futebol?


Aqueles que não são afeitos ao futebol costumam resmungar pelos cantos “por que você assiste isso?”. “Que graça tem essa porra?”. “Os caras tão ricos e você ai gritando sem ganhar um tostão”.
Este ensaio nada mais é do que uma resposta aos ignorantes (no aspecto mais puro da palavra - ‘aqueles que ignoram, desconhecem’) acerca dessa arte praticada nos gramados, ruas e campos de terra e areia do mundo todo. Para que a questão fique clara é preciso que voltemos alguns milhares de anos no tempo - quando a humanidade ainda caminhava sobre as planícies em busca de alimento - para as paredes das cavernas.
É amplamente aceito entre os estudiosos que as pinturas rupestres, em sua maioria, ilustrando guerreiros caçadores abatendo suas presas, eram um rito cerimonial através do qual os homens e mulheres primitivos acreditavam capturar a alma de suas presas e que assim no momento do ataque já teriam a vitória praticamente garantida. Isso, muito provavelmente, lhes dava força e motivação extra para enfrentar as dificuldades do dia-a-dia.
Os ameríndios brasileiros, por sua vez, travavam batalhas e guerras alegóricas. O objetivo de suas escaramuças era provar sua bravura. E mesmo o ato de devorar o adversário vencido era cerimonial, pois dessa forma acreditavam estar se nutrindo das forças e coragem do inimigo.
Mesmo o antigo povo helênico tinha em seus deuses não uma simples devoção religiosa, mas um pano de fundo para as histórias de sua linhagem; para os feitos de seus heróis antigos e antepassados. O mito é o intermediário entre o ser humano e sua experiência de vivenciar o mundo. A maravilha da espécie humana e um dos principais elementos que nos possibilitou sobreviver como espécie é a habilidade de criar ficção. De rir, chorar, sofrer, criar coragem e força através de coisas e situações que nós mesmos criamos. O futebol é parte desse espetáculo de idéias criado pela mente humana e contém em si todos os elementos dignos das mais incríveis epopéias gregas... O mais fraco que vence o mais forte desafiando todos os prognósticos; as reviravoltas inesperadas, a força da superação e o alcance dos feitos dos “heróis” e “vilões” das quatro linhas. E como disse o historiador inglês Eric Hobsbawm:

"A dimensão identitária da nação tem um lócus especial nos esportes, estes seriam uma espécie de reduto do nacionalismo moderno, e as Copas do Mundo de futebol ao longo de sua história se transformaram em evento símbolo desse nacionalismo."


Então, da próxima vez que perguntarem a você “pra que serve o futebol” diga a pessoa que se pergunte para que servem os mitos e lendas que o ser humano cria.

Nunca será só um jogo.

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